Troca de guarda na Valduga

by José Maria Santana | 21/05/2016 14:24

Casa Valduga família

Família Valduga: sentaqdos, os irmãos Erielso, Juarez e João. Atrás, esposas e filhos

Uma nova geração assume postos importantes na direção do grupo gaúcho Famiglia Valduga, de Bento Gonçalves. Juarez e João Valduga, até agora à frente da empresa, começam a passar o comando dos negócios aos filhos Jones, Luiza (de João) e Eduardo (de Juarez) Valduga. O anúncio foi feito oficialmente em uma grande festa para representantes da marca, clientes e imprensa no dia 30 de abril, o Valduga Tasting Day. “Completamos uma etapa da nossa história em 2015, com os 140 anos da chegada dos primeiros imigrantes italianos à Serra Gaúcha e os 40 anos da vinícola Valduga”, disse Juarez. “Agora chegou o momento de passar o bastão aos mais jovens”. Ele e o irmão pretendem trabalhar mais alguns anos e depois ficar apenas no conselho de administração, deixando o dia a dia para os filhos.

Casa Valduga vinhedos 2

Hoje a família atua em diferentes empresas. A Casa Valduga produz vinhos premiados, considerados entre os melhores do Brasil. A Domno importa vinhos de vários países e também comanda a .Nero, que elabora espumantes pelo método Charmat, em tanques fechados de inox. A Casa Madeira é uma delicatessen que faz suco de uva integral, geleias gourmet, antepastos e aceto balsâmico. A Cervejaria Leopoldina produz cervejas artesanais de nível elevado. E a Vinotage, o braço mais novo do grupo, oferece cosméticos feitos a partir da uva. Papel de destaque também merece o enoturismo, que recepciona os visitantes nas lojas, em cinco pousadas e nos dois restaurantes Valduga.

Novidades não faltam. A família anunciou a ampliação das instalações da Domno, no prédio da vizinha Garibaldi, antes pertencente à multinacional Domecq. Com isso, pretende aumentar a produção de espumantes de método Charmat de 1 milhão de garrafas por ano para 3 milhões. No mesmo local está sendo construída a fábrica da Leopoldina. A cervejaria artesanal já apresenta cinco rótulos e vai oferecer mais dois, uma trippel e uma session.

Jones, 33 anos, é o novo diretor financeiro do grupo; Luiza, 26 anos, responde pelo Marketing; Eduardo Luís, 33 anos, é diretor de Operações. Ana Paula, também filha de Juarez Valduga, cuida do enoturismo. Embora já chefiem unidades de negócio, o desafio é grande: expandir as empresas da família pelos próximos anos e, principalmente, manter o padrão de qualidade dos vinhos da Casa Valduga, onde tudo teve início.

A vinícola foi criada nos anos 1970 por Luiz e Maria Valduga, viticultores, família simples, ligada à terra, ajudados pelos filhos Juarez, João e Erielso. Os primeiros anos foram difíceis. João e Juarez lembram que enchiam com uma mangueira, diretamente da pipa, os garrafões de plástico de 5 litros e saiam a vender para conhecidos das cidades vizinhas e em Porto Alegre. Os vinhedos eram de uvas híbridas americanas, não viníferas, plantadas em latada, o tradicional sistema de caramanchões existente até hoje na Serra Gaúcha. Mas as dificuldades foram vencidas, sempre com persistência, visão empreendedora e alguma ousadia.

 

Viagem à Bahia

Alguns exemplos pitorescos recordam a saga da família. O patriarca Luiz era apegado aos antigos costumes e não queria saber da conversão dos vinhedos para uvas europeias, em espaldeira. Para realizar a operação, que consideravam essencial, Juarez e João pagaram para os pais uma viagem à Bahia. “De ônibus, para durar vários dias”, lembra João, bem humorado. Enquanto os pais estavam fora, eles erradicaram parte das velhas vinhas da híbrida Isabel, substituindo por Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e outras.

Luiz criava porcos e adorava fazer linguiça e embutidos. Mas o chiqueiro ficava junto da adega, o que ia contra os princípios de higiene da moderna vinicultura. Para convencer o pai, os filhos disseram que precisavam tirar o chiqueiro daquele local para construir uma pousada no terreno. Na época, as estradas eram de terra e não havia nada para atrair visitantes à vinícola. Então a ideia da pousada parecia interessante e Luiz Valduga concordou. Assim nasceu o enoturismo, um destaque nas atividades da família. Aliás, a Casa Madeira também surgiu de uma necessidade: o que fazer com as uvas híbridas Isabel, Concord e Bordô remanescentes dos velhos vinhedos e com as outras frutas que amadureciam nos pomares? Veio então a ideia de produzir suco integral de uva e as geleias finas.

 

Aposta nos espumantes

Casa Valduga cave-de-espumantes

Voltando aos vinhos, a família começou com 12 hectares de terra na chamada Linha Leopoldina, Vale dos Vinhedos. Ao longo do tempo, investiu bastante na melhoria das vinhas e na modernização da adega. Atualmente, além da Serra Gaúcha a Casa Valduga possui 250 ha. de vinhedos em Encruzilhada da Serra, área da Serra do Sudeste, e na Campanha, fronteira com o Uruguai. Produz entre 3,5 a 4 milhões de garrafas por ano, dependendo da safra, de tintos, brancos, rosés e espumantes.

De início, predominavam em seu portfolio tintos e brancos tranquilos. Aos poucos, os espumantes ganharam destaque e passaram a ser a grande aposta da vinícola. Segundo Juarez Valduga, hoje os espumantes já representam metade da produção e o objetivo é que em futuro breve alcancem de 70 a 80% do que a casa lança todos os anos no mercado.

 

Casa Valduga vinhos

A linha de vinhos é ampla, vai de rótulos básicos a alguns de produção reduzida e nível superior. A série Leopoldina vem do Vale dos Vinhedos; Identidade, de Encruzilhada do Sul; e Raízes, da Campanha. Entre os brancos, chamam a atenção o Leopoldina Gran Chardonnay; o Identidade Gewürztraminer; e o Raízes Sauvignon Blanc. Na ala tinta, merecem lugar especial o Identidade Pinot Noir; o Leopoldina Merlot; o Gran Identidade Corte; e, especialmente, o Gran Raízes Corte (lote de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat). No topo ficam os tintos Villa-Lobos Cabernet Sauvignon; o Storia Merlot, do Vale dos Vinhedos, produzido apenas nos melhores anos; e o raro Luiz Valduga, o novo ícone da casa.

Casa Valduga espumantes

Os espumantes Casa Valduga são um capítulo à parte, pela consistência, qualidade e frescor. Todos são elaborados pelo método clássico, em que a segunda fermentação acontece na própria garrafa. Pelo rigor na seleção das uvas Chardonnay e Pinot Noir, e cuidados na vinificação, destacam-se o Casa Valduga 60Meses Gran Nature; o Maria Valduga; o 130 Brut; e o Casa Valduga 60 Meses Gran Extra Brut. O avô Marcos não tinha sapatos, o pai falava português com alguma dificuldade. Hoje a família Valduga exporta vinhos para mais de 20 países. É mesmo uma bela história de superação.

Saiba mais sobre os 140 anos da Famiglia Valduga[1]

 

 

Endnotes:
  1. Saiba mais sobre os 140 anos da Famiglia Valduga: http://www.brasilvinhos.com.br/2015/03/23/famiglia-valduga-140-anos/

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