A saga da família Miolo
A família Miolo, de Bento Gonçalves, começou vendendo uvas a terceiros, passou a engarrafar os próprios vinhos e, ao longo das últimas décadas, construiu uma empresa sólida, com cinco grandes projetos vitivinícolas e presença marcante em quatro diferentes regiões brasileiras. Com 1.150 hectares de vinhedos, o grupo Miolo produz hoje 12 milhões de garrafas por ano, o que o coloca na liderança do mercado nacional de vinhos finos.
É integrado pelas vinícolas Miolo, no Vale dos Vinhedos; Seival Estate e Almadén, na Campanha, fronteira com o Uruguai; RAR, em Campos de Cima da Serra, no nordeste gaúcho, em associação com o empresário Raul Anselmo Randon; e Ouro Verde, no vale do Rio São Francisco. Ainda no Rio Grande do Sul, participa da Lovara Vinhas e Vinhos e da Bueno Wines, vinícola do conhecido narrador Galvão Bueno. O grupo Miolo tem também parcerias na Argentina, Chile, Espanha e Itália.
As conquistas exigiram trabalho e dedicação. Tempos atrás, Darcy Miolo, que fundou a vinícola junto com os irmãos e os filhos, contou como foram os primeiros momentos: “O começo foi muito difícil. Mas a gente tinha certeza que produzindo uva de qualidade seria possível fazer um bom vinho e crescer”. O início de tudo, realmente, foram uvas de qualidade. Darcy e seus irmãos Antônio e Paulo são netos de Giuseppe Miolo, italiano do Veneto, que em 1897 imigrou para o Brasil e se instalou na Serra Gaúcha – no Lote 43 da Linha Leopoldina, hoje coração do Vale dos Vinhedos. Sob a liderança de Darcy, o mais velho, a família era conhecida na região por fornecer boa matéria-prima a grandes empresas, especialmente à Dreher. Ainda eram uvas americanas, não viníferas.
Na década de 1970, a então Martini & Rossi, hoje parte do grupo Baccardi Martini, decidiu produzir vinhos finos em nosso país, a linha Château Duvalier, e estimulou os melhores agricultores locais a trocarem as castas híbridas por viníferas. Darcy logo se destacou no grupo: “Primeiro nós plantamos Cabernet Franc, Sémillon e Merlot. Depois, vieram a Riesling, Chardonnay e Cabernet Sauvignon”.
No final da década de 1980, a crise econômica afetou especialmente o setor vinícola e por dois anos seguidos as grandes empresas deixaram de comprar a produção combinada com os agricultores. Darcy Miolo ficou em um grande dilema: “Na época, fora da Martini e de uma ou outra multinacional, a gente não tinha para quem vender aquele tipo de uva fina. Sem outra saída, e mesmo sem experiência, decidimos fazer o nosso próprio vinho”. Ele reuniu as economias da família e entrou no ramo com os irmãos e os cinco filhos.
O filho mais velho, Adriano, estudava enologia em Mendoza, na Argentina, e montou uma empresa de consultoria, ajudado pelo irmão Fábio, então com 18 anos. Darcy tinha apenas alguns tonéis antigos e uma pequena prensa de madeira e começou a fazer vinho para vender a granel. O negócio não ia para frente. “Percebemos que era preciso agregar valor ao nosso produto”, diz ele. Assim a família Miolo resolveu engarrafar os vinhos com seu nome. Adriano vinha para casa nas férias escolares, exatamente no período da vindima na Serra Gaúcha. Ele vinificou o primeiro Miolo, um Merlot, com as uvas da excepcional safra de 1991. Foram apenas 8 mil garrafas, entregues ao mercado em 1994, mas começava aí uma nova etapa na história na empresa. Darcy não esqueceu: “Logo apareceu uma pessoa e comprou metade da nossa produção. Ficamos muito contentes. O duro foi receber o dinheiro depois”.
Também na década de 1990 houve uma decisão radical: a família eliminou todos os antigos vinhedos plantados em latada, espécie de caramanchão, substituindo pelo moderno sistema de espaldeira, condução vertical. Acreditando no bom nível de seus tintos e brancos, Darcy começou a participar de feiras, de degustações, de eventos. Aos poucos, a Miolo chamou a atenção da imprensa especializada e dos consumidores mais exigentes. Alguns anos depois a casa já estava produzindo 350 mil garrafas de vinho por ano e crescendo cada vez mais. Em 1998, deu mais um salto, investindo na compra de terras, na melhoria dos vinhedos e em ambicioso projeto que se completou com a construção da moderna cantina no Vale dos Vinhedos.
Darcy passou depois o comando dos negócios para os filhos. Por quase dez anos, até 2013, o grupo teve a consultoria do célebre enólogo francês Michel Rolland. A parceria foi importante. Rolland defendeu novos manejos no campo, com podas para baixar os rendimentos ou para aumentar a exposição dos cachos ao calor do sol. Ele também ajudou a equipe a conhecer os diferentes terroirs e as uvas que se dão melhor em cada um deles. Nesse período, a empresa investiu mais de R$ 120 milhões na melhoria de seus vinhedos e vinhos, na expansão da produção, em tecnologia de ponta, instalações e equipamentos de última geração. Por tudo isso, dá para entender por que, em menos de 30 anos, a Miolo se tornou uma referência de vinho de qualidade no Brasil.
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