Gaúcha Peterlongo lança bons tintos com a uva portuguesa Touriga Nacional e com a italiana Teroldego

by José Maria Santana | 12/01/2018 17:35

A vinícola Peterlongo, de Garibaldi, na Serra Gaúcha, está lançando dois novos tintos da série Armando Memória, um produzido com a casta portuguesa Touriga Nacional e o outro, com a italiana Teroldego. Da safra de 2016, foram elaborados pela equipe da enóloga Deise Tempass, com acompanhamento feito pelo renomado enólogo francês Pascal Marty, consultor da casa. Os rótulos chegam ao mercado em fevereiro.

Os dois tintos, de ótimo nível, refletem o avanço da Peterlongo também na elaboração de vinhos tranquilos, pois antes a empresa era mais conhecida por seus espumantes. As uvas para ambos vêm de Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste, e da Campanha Gaúcha.

O Armando Memória Touriga Nacional 2016 tem boa fruta, é encorpado, com equilíbrio e gostoso final. Pascal Marty acredita muito no potencial da Touriga Nacional de Encruzilhada do Sul. Acha mesmo que ela poderá servir de base para o tinto de alta gama que a Peterlongo pretende apresentar em dois ou três anos.

Já o Armando Memória Teroldego 2016 chama a atenção por ser elaborado com uma uva menos conhecida, mas com forte tradição no Sul do Brasil. E é dele que vamos falar.

 

Origem trentina

A Teroldego (com acento no primeiro “o”) é uma uva tinta italiana, encontrada na região do Trentino-Alto-Adige, no extremo norte do país, fronteira com a Áustria. No passado, era cultivada também no Vêneto. Fora da Itália, um dos poucos países em que é plantada é o Brasil, onde chegou no século XIX, trazida pelos imigrantes instalados na Serra Gaúcha, vindos exatamente, em sua maior parte, das zonas de Trento e do Vêneto.

Apesar da presença antiga no Sul do nosso país, a casta só passou a ganhar destaque mais recentemente, depois que enólogos gaúchos da nova geração foram estudar no norte da Itália, resgatando o contato com as regiões de origem de suas famílias.

Lá, hoje a Teroldego é cultivada principalmente nas Dolomitas, sub-região trentina cortada pela autoestrada que liga a bela cidade de Cortina D’Ampezzo a Bolzano, já na fronteira com o Tirol austríaco. Nas Dolomitas fica a chamada planície Rotaliano, onde a Teroldego dá origem a vinhos com a única apelação  exclusiva para a variedade em toda a Itália – a DOC Teroldego Rotaliano. Produz desde vinhos jovens e frutados, até tintos complexos e longevos.

 

Características

A Teroldego é uma uva de cor escura e casca grossa, normalmente com grande carga de taninos. Por isso, entre os italianos costuma também ser usada em cortes, para proporcionar cor e reforçar a estrutura de tintos do Vêneto e da Toscana. Estudos recentes mostraram ainda que a Teroldego é aparentada com a Syrah.

O clima do local onde é produzida pode alterar o comportamento da casta e o estilo de seus vinhos. Em zonas mais frias, como a Serra Gaúcha, geralmente resulta em vinhos aromáticos, de coloração mais clara e menos potentes. Já em áreas mais quentes do Rio Grande do Sul, como a Serra do Sudeste e a Campanha, na fronteira com o Uruguai, pode oferecer tintos encorpados e tânicos, características amenizadas com a passagem pelo carvalho.

A vinícola foi fundada pelo imigrante italiano Manoel Peterlongo – por coincidência nascido em Trento, capital do Trentino. Ele veio para o Brasil em 1878, produziu o primeiro espumante do país em 1913 e oficializou a empresa dois anos depois. A Linha Armando Memória foi lançada pelo empresário Luiz Carlos Sella, à frente da empresa há 15 anos, para homenagear Armando Peterlongo, filho de Manoel, que fez deslanchar o negócio. A série Armando Memória oferecia inicialmente os varietais Cabernet Sauvignon, Tannat e Merlot, e é reforçada agora com os tintos Touriga Nacional e Teroldego, sempre em lotes reduzidos, perto de 5 mil garrafas cada

 

Armando Memória Teroldego 2016

Peterlongo – Garibaldi, RS – Brasil – R$ 76 – Nota 90

O tinto, com uvas da Campanha e do vinhedo próprio da Peterlongo em Encruzilhada do Sul, tem coloração rubi escuro, densa. É encorpado, com notas vegetais que marcam a variedade, mas aqui com um perfil maduro e suavizado pelo estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês. Nos aromas há toques florais, de tabaco e leve defumado, em base frutada a amora. Robusto, estruturado, com taninos sem agressividade, apresenta boa acidez e frescor, com agradável final aveludado. Vai bem com a comida, especialmente pratos substanciosos e carnes suculentas (13%).

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