Na chegada do inverno, Qualimpor promove seus vinhos

by José Maria Santana | 16/05/2018 18:36

Com a aproximação do inverno, tempo importante para a comercialização de vinhos no Brasil – se é que este ano, com todas as mudanças climáticas, teremos dias frios – as importadoras promovem seus vinhos junto aos consumidores. Na semana passada foi a vez de a Qualimpor, de João Roquette, abrir o catálogo, em que brilham os vinhos produzidos por seus irmãos em Portugal. Um deles, José Roquette, é dono da Herdade do Esporão, no Alentejo, e da Quinta dos Murças, no Douro. E Jorge Roquete comanda, com os filhos, a Quinta do Crasto, no Douro.

Mas o portfólio da importadora paulistana agora também abriga rótulos de outros produtores. Ainda de Portugal, estão presentes os Vinhos Verdes da Quinta do Ameal e os Portos da tradicional casa Taylor’s; e da Espanha, os espumantes (cava) da gigante Freixenet.

Os principais rótulos destas vinícolas foram apresentados no 7º Wine Day Qualimpor, que em São Paulo aconteceu no belo espaço da Casa Miracolli, nos Jardins. Destacamos aqui alguns vinhos provados no evento, em diferentes faixas de preço.

 

Bico Amarelo 2017

Quinta do Ameal – Vinhos Verdes – Portugal – Qualimpor – R$ 71,60 – Nota 89

A Quinta do Ameal, no Vale do Lima

Pedro Araújo, de antiga família produtora de vinhos (ele é bisneto de Adriano Ramos Pinto), criou seu projeto pessoal em 1990, no Vale do Lima, região dos Vinhos Verdes e terra da Loureiro. Ele conta que, na época, dizia-se que a casta é de segunda linha, com brancos que não duravam nem seis meses. Mas ele provou o contrário. Com 15 hectares de vinhedos, a casa especializou-se em Loureiro e oferece vinhos de grande impacto, como o já clássico Ameal Loureiro 2015 (R$ 141,90), o natural Solo 2014 (R$ 211) e o Escolha Loureiro 2014 (R$ 271,50). No evento paulistano, Pedro Araújo deu a provar o Ameal Loureiro 2005, cheio de vida, confirmando que a casta tem sim capacidade para envelhecer bem.

Pela boa relação entre preço e qualidade, avaliamos aqui o vinho da gama de entrada da empresa, o Bico Amarelo, produzido especialmente para o mercado brasileiro e assinado pelo respeitado enólogo Anselmo Mendes. Na mescla, a Loureiro predomina com 50% e aparece em companhia de Alvarinho (30%) e Avesso (20%). Nos aromas há notas florais, algo de erva-doce, cítricos e fruta madura, como melão. Destaque para a boca, onde mostra bom volume e acidez firme, tensa, tudo bastante equilibrado e agradável (11,5%).

 

Crasto Rosé 2017

Quinta do Crasto – Douro – Portugal – Qualimpor – R$ 130 – Nota 90

A bela Quinta do Crasto, no Douro

A Quinta do Crasto, uma das mais belas do Douro, passou ao comando de Leonor e Jorge Roquette (um dos irmãos de João Roquette) e de seus filhos Miguel e Tomás em 1981. Mas a propriedade está há mais de cem anos em mãos da família, pois foi adquirida em 1910 por Constantino de Almeida, avô de Leonor, que comercializava Porto. Os donos atuais apresentaram os primeiros vinhos em 1994, apenas 20 mil garrafas por ano. Hoje, a vinícola entrega anualmente ao mercado 1,4 milhão de garrafas e o Brasil é seu principal mercado.

Com 135 hectares de área total, dos quais 74 plantados com vinhas, a quinta se situa na margem direita do rio Douro, entre a Régua e o Pinhão, no Cima Corgo, e mostra ter condições excepcionais para produzir vinhos de mesa e Portos de altíssima qualidade. Há alguns anos, a família comprou outra propriedade no Douro Superior, a Quinta da Cabreira, com 150 hectares (sendo 114 ha de vinhas). Nos dois locais, todo o cultivo hoje é orgânico. Em seu portfólio há bons brancos e tintos espetaculares, como o Reserva Vinhas Velhas 2015 (R$ 463,80), o Crasto Superior Tinto 2015 (R$ 205,15) e os notáveis e raros tintos Vinha da Ponte e Vinha Maria Teresa (R$ 1.450,00 cada).

Mas faltava um rosé para completar a gama que leva o nome Crasto e ele foi lançado há alguns meses. Como é sempre bom ter um rosado versátil na adega, é sobre ele que vamos falar. Basicamente Touriga Nacional (85%), temperada por Tinta Roriz, chama a atenção pela cor salmão intensa, obtida pelo contato do mosto por 8 horas com as cascas. É estruturado, nada diluído, sem ser pesado. Lembra ao nariz fruta vermelha madura, como cereja e groselha, com algumas notas florais. Na boca é seco, com boa fruta, acidez e frescor. Não fica atrás dos bons vinhos da casa (12,5%).

 

Esporão Colheita Tinto 2017

Herdade do Esporão – Alentejo – Portugal – Qualimpor – R$ 100 – Nota 91

Herdade do Esporão: manejo orgânico até 2021

A série Colheita é composta por um branco e este tinto, os novos vinhos orgânicos do Esporão. A propósito, a casa pretende até 2021 ter todos os seus vinhedos com manejo biológico. E não é tarefa pequena. A Herdade do Esporão, localizada na sub-região alentejana de Reguengos de Monsaraz, possui área de 1.830 hectares de terras, sendo 617 ha de vinhas, dos quais 491 ha já em modo de produção biológico. A propriedade pertencia aos condes de Alcáçovas e em 1973 foi comprada pelo empresário José Roquette (irmão mais velho de João Roquette, o caçula da família) e um sócio.

O primeiro vinho com a marca Esporão foi lançado em 1985. A vinícola cresceu, consolidou-se e hoje é um dos grandes nomes do Alentejo e de Portugal, com a participação da segunda geração da família de José Roquette no comando dos negócios. Em 2008, o grupo deu novo salto, ao comprar a Quinta dos Murças, no Douro, com 150 hectares, sendo 48 ha de vinhas.

Voltando à matriz alentejana, a equipe técnica, chefiada pelo experiente enólogo australiano David Baverstock, responde por vinhos de padrão elevado, como os tintos e brancos das linhas Esporão Reserva e Esporão Private Selection, além de ótimos varietais e do top Torre, produzido apenas em anos especiais.

O Esporão Colheita Tinto faz parte da nova proposta da casa de trabalhar a favor da terra e fazer vinhos de maneira mais natural. Lote de Touriga Franca e Cabernet Sauvignon, começa a fermentação em lagares, com pisa a pé, terminando em tulipas de concreto, onde depois repousa por seis meses. Traz nos aromas fruta vermelha, como cassis e mirtilo, com algo vegetal e de alcaçuz. Na boca é encorpado, com taninos firmes, maduros, um vinho musculoso, mas equilibrado e elegante, com bom frescor final (13,5%).

 

Taylor’s Porto LBV 2012

Taylor’s – Douro – Portugal – Qualimpor – R$ – Nota 91

A Quinta de Vargellas, da Taylor’s

“Vinho do Porto Taylor’s – desde 1692”. Assim se apresenta a Taylor, Fladgate & Yeatman, uma das mais antigas e históricas casas de Vinho do Porto, instalada antes mesmo da criação da Região Demarcada do Douro (1756). Ao contrário de muitos concorrentes, que hoje produzem também tintos e brancos de mesa, passados mais de três séculos a tradicional firma fundada por ingleses continua a se dedicar exclusivamente ao mais emblemático vinho português.

Criada pelo comerciante inglês Job Bearsley, a empresa teve sucessivos donos até a entrada, nas primeiras décadas do século XIX, de Joseph Taylor, John Fladgate e Morgan Yeatman, os três sócios que lhe dão o nome consagrado junto ao mercado internacional. Depois a família Yeatman seguiu sozinha no negócio e a Taylor’s permanece até hoje em mãos de seus descendentes.

Ao longo do tempo, a casa teve períodos de grande prosperidade, e também de dificuldades, como na segunda metade do século XIX, quando o Douro foi devastado pela praga filoxera. Sobreviveu a tudo e chega aos dias atuais como um dos grandes nomes da vinicultura mundial, famosa por seus Vintage de classe e por ter extensas reservas de Tawnies envelhecidos. Possui algumas das propriedades do Douro, como a Quinta de Vargellas. Nas últimas décadas, o grupo adquiriu outras empresas famosas – Fonseca Guimaraens, Croft e Delaforce, enriquecendo seu portfólio.

Além da filosofia de sempre produzir Portos de qualidade, a Taylor’s foi pioneira em diversas ações. Por exemplo, foi a primeira firma inglesa a comprar uma quinta no Douro (1744); lançou no mercado o primeiro Porto Branco (1934); e saiu na frente quando o IVP autorizou a comercialização de Tawnies com indicação de idade (1973). No evento da Qualimpor em São Paulo foi possível confirmar esse padrão elevado, com a prova de preciosidades como o Taylor’s 325 Anos e o Taylor’s Colheita 1968, dois Tawnies envelhecidos e para lá de especiais.

Mas talvez um de seus destaques mais reconhecidos seja a criação do estilo LBV (Late Bottled Vintage). A ideia era ter um vinho da família Ruby de um só ano, com estrutura e qualidade, que pudesse ficar pronto antes e fosse alternativa para o Vintage, o topo da classificação. Para isso, o vinho foi deixado mais tempo em madeira do que os dois anos usuais para o Vintage e, portanto, engarrafado mais tarde – daí o nome Late Bottled Vintage. O primeiro LBV, da colheita de 1965, foi lançado pela Taylor’s em 1970. Foi um grande sucesso, logo seguido pelas outras casas.

Até hoje a Taylor’s continua referência em LBV, como foi possível observar na prova do vinho de 2012, engarrafado em 2017. Encorpado, estruturado, com muita fruta madura, lembra nos aromas cassis, em meio a notas florais, a esteva, planta típica do Douro. Na boca é gordo, untuoso, com álcool bem integrado, persistente e elegante. Um vinho delicioso (20%).

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