A chilena Terranoble renova linha e oferece brancos e tintos muito bem feitos

by José Maria Santana | 27/02/2019 17:08

A Terranoble tem hoje 450 ha de terras

Nos últimos anos, a vinícola chilena Terranoble passou por grandes transformações, desde o realinhamento de seus vinhos ao redesenho e modernização dos rótulos. O resultado é que seus tintos e brancos ficaram mais interessantes, frutados e frescos, sem perder a ligação com o terroir que sempre marcou sua atuação. As mudanças foram mostradas esta semana em São Paulo pelo enólogo da casa, Marcelo Garcia, e por Gonzalo Badilla, responsável pelo mercado das Américas e Ásia. O evento foi organizado pela importadora Decanter, de Adolar Hermann.

Ao apresentar os visitantes, Adolar lembrou que a Terranoble sempre ofereceu bons vinhos, mas padecia de certa falta de foco, motivada pela presença de vários donos na sociedade. Segundo ele, as coisas se acertaram depois que a empresa passou a ter um único proprietário, o empresário de origem alemã Wolf von Appen. Marcelo Garcia, vindo de grupos importantes, como Concha y Toro, Santa Carolina, Valdivieso e San Pedro, assumiu o comando da equipe técnica em 2016 e recebeu apoio para propor diversas novidades, como uma nova linha, ainda a ser lançada, por enquanto batizada de Disidente, com um bom branco laranja e dois tintos de uvas menos usuais por ali.

O início, no Maule

A Terranoble nasceu em 1993, fundada por Jorge Elgueta e mais três amigos para produzir vinhos de alta gama a partir de duas variedades, Sauvignon Blanc e Merlot. Elgueta instalou a bodega no vale que considerava ideal para isso, o Maule, 250 km ao sul de Santiago, a capital.

No ano seguinte, um acontecimento importante teve forte repercussão na indústria vinícola chilena e também na Terranoble. Foi a descoberta, em 1994, de que no meio da maioria dos vinhedos de Merlot do Chile havia misturada uma outra variedade, a Carmenère, identificada pelo famoso ampelógrafo francês Jean Michel Boursiquot em uma visita ao país.

Originária de Bordeaux, na França, a casta era tida como extinta depois do aparecimento da filoxera, a praga que devastou as vinhas europeias no século XIX. Antes disso havia sido trazida para o Chile, onde se misturou e era confundida com a Merlot. A Terranoble logo adotou a Carmenère como sua uva emblemática.

 

Três vales

No Maule, a vinícola se instalou na zona de San Clemente e Talca, onde possui o vinhedo La Higuera. Jorge Elgueta morreu em 2003. O empresário Wolf von Appen, de uma família com negócios na área portuária, entrou na sociedade em 2006 e mais tarde assumiu o controle integral da empresa. Aos poucos a Terranoble se expandiu, incorporando outras uvas a seu portfólio, como Cabernet Sauvignon, Syrah, Petit Verdot, Marselan, Pinot Noir, Chardonnay, Riesling y Pinot Blanc.

Vinhedo El Algarrobo, em Casablanca

Além do Maule, casa estendeu-se para o vale acima, o de Colchagua, 150 km ao sul de Santiago. Colchagua começa aos pés da Cordilheira dos Andes e, de leste para oeste, percorre toda a bacia do rio Tinguiririca até o Pacífico, onde recebe influência direta das brisas frias do oceano. Terranoble explora o potencial dos dois extremos de Colchagua. Seu vinhedo Los Lingues fica no sopé dos Andes; e o Los Cactus se localiza em Marchigüe, Colchagua Costa. A linha de tintos CA (de Carmenère) busca mostrar exatamente isso, a diferença dos vinhos feitos com a mesma cepa nos dois terroirs.

Por fim, a vinícola está presente também no vale de Casablanca, perto do mar, 120 km a oeste de Santiago, onde possui o vinhedo El Algarrobo, ideal para o desenvolvimento das variedades de clima frio, como Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling e Pinot Noir. No total, Terranoble posssui hoje 450 hectares de terras nos três vales.

A linha de vinhos começa com a série Estate, de entrada. Depois, Reserva, Reserva Terroir, Reserva Especial, Gran Reserva e, no topo, os tintos de alta gama Kaykun Pinot Noir, os dois Carmenère CA e o icônico blend Lahuen. Avaliamos alguns deles aqui, para mostrar o estilo Terranoble.

 

Terranoble Estate Sauvignon Blanc 2018

Terranoble – Vale do Maule – Chile – Decanter – R$ 61,10 – Nota 88

Branco frutado e fresco, feito com uvas basicamente do Maule e um pouco de Colchagua. Da linha de entrada, traz nos aromas notas de arruda, tomate e leve cítrico. Depois da fermentação, ficou dois meses em contato com as borras, para ganhar mais volume. Sem passagem por madeira, tem corpo médio, é seco e mostra boa acidez. Um vinho simples, aromático, limpo e muito fácil de beber (13%).

 

Terranoble Gran Reserva Pinot Noir 2016

Terranoble – Vale de Casablanca – Chile – Decanter – R$ 186,80 – Nota 91

Vem de uma parcela especial do vinhedo El Algarrobo, localizado na zona mais fria de Casablanca, e passou por distintos processos durante a vinificação. Parte das uvas foi fermentada com os bagos inteiros em pequenas barricas; e 40% não foram desengaçados, isto é, não houve a retirada dos cabinhos. Ao final, o vinho amadureceu por oito meses, sendo parte em ovos de cimento, parte em foudres (barricas grandes, com capacidade entre 1.000 e 5 mil litros) e o restante em barricas usadas de carvalho francês de 300 litros. Tanto trabalho resultou em um tinto expressivo, que mostra ao nariz frutas vermelhas, como morango e cereja, além de notas terrosas. Na boca apresenta corpo médio, boa estrutura, bela acidez, persistência e frescor. Equilibrado, tem uma vivacidade picante, que o torna intrigante (13%).

 

Terranoble Gran Reserva Carignan 2015

Terranoble – Vale do Maule – Chile – Decanter – R$ 186,80 – Nota 91

As vinhas muito antigas de Carignan, plantadas em vaso, em que cada pé parece uma pequena árvore, são uma riqueza do Maule. Geralmente são encontradas em propriedades de agricultores familiares, que vendem as uvas às vinícolas maiores. É o que acontece aqui. Com uvas de uma vinha com 60 anos ou mais, adquiridas de um pequeno produtor da região, a equipe da Terranoble, na época chefiada pelo enólogo Ignacio Conca, conseguiu um tinto diferenciado. Amadurecido por 12 meses em barricas novas e usadas de carvalho francês, lembra nos aromas amora, ameixa e cereja, em meio a notas florais, terrosas e de torrefação. Tem bom corpo, taninos maduros e de início parece um tanto austero. Mas logo o equilíbrio e a boa integração dos componentes falam mais alto. Ao final, aparecem notas de café, arrematando o agradável conjunto (14%).

 

Terranoble CA 1 Andes 2013

Terranoble – Vale de Colchagua – Chile – Decanter – R$ 209,20 – Nota 92

É parte do projeto iniciado em 2007 pela Terranoble para mostrar o potencial e as diferenças de vinhos de Carmenère vindos de duas áreas distintas de Colchagua, embora separadas por apenas 50 km. Há mesmo nuances específicas em cada um dos dois tintos. O primeiro, como indicado no rótulo, procede da zona da cordilheira, onde fica o vinhedo Los Lingues. A parcela de 7 hectares foi plantada em 2002, em uma encosta a 370 metros de altitude no sopé dos Andes, onde os verões são secos e quentes, mas há uma importante amplitude térmica, isto é, a diferença de temperatura entre os dias e as noites, o que favorece o pleno desenvolvimento das uvas. É 100% Carmenère, com estágio de 12 meses no carvalho francês. Nos aromas aparecem cereja e amora maduras, além de notas florais, de chocolate e de tabaco. Destaque para a boca, onde se mostra untuoso, estruturado, equilibrado, longo e elegante. Um vinho suculento, muito bem feito (14%).

 

Terranoble CA 2 Costa 2014

Terranoble – Vale de Colchagua – Chile – Decanter – R$ 209,20 – Nota 92

Completa o projeto, trazendo a mesma Carmenère, plantada em zonas diferentes de Colchagua. O CA 2 Costa vem de 3 hectares de vinhedos plantados em 2005 próximo a Marchigüe, a 30 km do Pacífico, área mais fria, geralmente com entrada de névoa pela manhã. Também 100% Carmenère, repousou os mesmos 12 meses em carvalho francês que o CA 1. As nuances aparecem já ao nariz, aqui baseado em cassis e ameixa preta, com notas de eucalipto e alcaçuz. Na boca é concentrado, tem taninos mais presentes, maduros, algo floral e grande frescor. Esta vivacidade talvez seja o que o define melhor (14%). Qual o melhor CA? Uma questão de gosto. Os dois são ótimos, mas eu preferi o CA 1.

 

 

 

 

 

 

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