Miolo completa 30 anos e comemora com um espumante especial, o Íride Sur Lie Nature 10 Anos

by José Maria Santana | 12/11/2019 17:55

Adriano Miolo, no lançamento do Íride 10 Anos

A vinícola gaúcha Miolo está completando 30 anos de fundação e, para celebrar a data, apresenta um espumante mais que especial, o Íride Sur Lie Nature 10 Anos 2009. Nesse tempo todo que passou repousando na garrafa, no silêncio das caves e em contato com as borras, o vinho ganhou complexidade e se compara a muitos dos grandes espumantes produzidos no mundo.

Em três décadas de existência, a Miolo se tornou um dos maiores grupos vinícolas do país. Possui 1.000 hectares de vinhedos, produz 8 milhões de garrafas de vinho por ano e é a empresa que mais exporta rótulos nacionais, chegando hoje a 32 países.

Está presente em quatro terroirs brasileiros diferentes. Começou no Vale dos Vinhedos, junto a Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. Depois se expandiu para dois pontos da Campanha, na fronteira com o Uruguai, onde administra os projetos Quinta do Seival e Almadén, e também para o Vale do rio São Francisco, no Nordeste do país, sede da empresa Terranova.

“A gente pretende que o Íride seja para nossa linha de espumantes o que o Lote 43 representou para os tintos”, diz Adriano Miolo, enólogo e superintendente da empresa. São dois ícones que, de fato, têm tudo a ver com a história do grupo. Íride é a matriarca, avó dos atuais diretores. Lote 43 é o local de seus primeiros vinhedos. A Miolo como vinícola surgiu em 1989. Mas o envolvimento da família com o vinho é muito anterior.

 

Nasce a vinícola

A sede, no Vale dos Vinhedos

Entre os milhares de imigrantes italianos que vieram para o Brasil no final do século XIX, em busca de oportunidades, estava o jovem Giuseppe Miolo, oriundo do vilarejo de Piombino Dese, província de Pádua, no Vêneto. Ele aportou aqui em 1897 e foi encaminhado para Bento Gonçalves, município recém formado, antiga Colônia Dona Isabel.

Como todos os imigrantes, recebeu uma gleba na zona rural, que pagou ao longo dos anos. Ficava na Linha Leopoldina, onde hoje é o Vale dos Vinhedos. Entre outras coisas, plantou uvas e fazia vinhos para consumo próprio.

As gerações seguintes da família mantiveram a tradição. Na década de 1970, três netos de Giuseppe, filhos de sua nora Íride, Darcy, Antônio e Paulo Miolo, se tornaram conhecidos na região pela qualidade das uvas que forneciam. Atendiam grupos vinícolas grandes, como a Dreher e, depois, a Martini & Rossi.

Tudo ia bem até o final dos anos 1980, quando a crise econômica atingiu as empresas do setor. Os produtores de uva, como os Miolo, não tinham para quem vender. É daqueles males que vêm para o bem. Os mais jovens, quarta geração da família, já defendiam que deveriam usar as uvas para fazer o próprio vinho. A dificuldade inesperada forçou a decisão que mudaria para sempre o futuro do grupo.

Quinta do Seival, na Campanha

Adriano, filho mais velho de Darcy, lembra que em 1988 estava começando a fazer a faculdade de Enologia em Mendoza, na Argentina. Vinha nas férias ajudar os pais e os irmãos na vinificação. No ano seguinte, surgiu a vinícola Miolo, com o objetivo de vender vinho a granel para terceiros.

Na época, a família possuía 48 hectares de terras, sendo 30 ha. ocupados por vinhedos. Foi a mesma trajetória seguida por outros grupos familiares que hoje são donos de conhecidas vinícolas no Rio Grande do Sul, como Valduga, Pizzato, Lidio Carraro, Dal Pizzol.

Início difícil. Mas com muito trabalho, vieram os frutos. Em 1992 a Miolo deu mais um passo, ao lançar seu primeiro vinho em garrafa, o Merlot Reserva, da safra de 1990. Foram apenas 8 mil unidades. Logo a vinícola cresceu: em 1998, já entregava ao mercado 500 mil garrafas de vários rótulos.

Fora do Vale dos Vinhedos, o sonho de Darcy era ter uma propriedade na Campanha Gaúcha. Concretizou o desejo em 2000, quando a família comprou a histórica Estância Fortaleza do Seival, no município de Candiota, dando início a seu segundo projeto vinícola. No ano seguinte, as famílias Miolo e Benedetti (grupo Bentec/Lovara) adquiriram a Fazenda Ouro Verde, no vale do rio São Francisco, origem da vinícola Terranova.

A vinícola Almadén

Uma nova etapa começou em 2002, quando o grupo Miolo contratou como consultor o famoso winemaker francês Michel Rolland. Ele recomendou algumas mudanças básicas. Antes, 80% dos vinhedos da Miolo eram conduzidos no antigo sistema de latada, espécie de caramanchão, modelo desfavorável em uma região úmida como a Serra Gaúcha, pois as folhas dificultam a insolação dos cachos. Hoje, 100% dos vinhedos estão plantados em espaldeira, sistema vertical.

Michel Rolland também ajudou a equipe da Miolo a conhecer seus diferentes terroirs e as uvas que se dão melhor em cada um deles. Em nove anos de parceria com o enólogo francês o grupo investiu mais de R$ 100 milhões na melhoria de seus vinhedos e vinhos.

Terranova, no vale do rio São Francisco

Por fim, em 2009 as famílias Miolo, Benedetti e Randon (do Grupo RAR, criado pelo empresário Raul Anselmo Randon) adquirem em Sant’Ana do Livramento, também na Campanha Gaúcha, a antiga e imensa propriedade da Vinícola Almadén, com 600 hectares, dos quais 450 ha. em produção, pertencentes à época ao grupo francês Pernod Ricard. Recentemente, houve uma parceria com o conhecido narrador da TV Globo Galvão Bueno, dono da Bueno Wines e de vinhas na Campanha Gaúcha.

Resumindo, o Miolo Wine Group é integrado atualmente por quatro vinícolas. A saber, a própria Miolo, no Vale dos Vinhedos; Seival e Almadén, na Campanha Gaúcha; e Terranova, no Nordeste brasileiro. Segundo Adriano Miolo, na divisão acionária do grupo a família Miolo detém 63%, estando o restante sob controle das empresas Bentec (família Benedetti), RAR e Bueno Wines.

 

No Vale dos Vinhedos

A presença na área de Denominação de Origem Vale dos Vinhedos, onde fica a sede do grupo, ainda guarda importância. Ali a Miolo possui 100 hectares de vinhas, em cinco propriedades – Graciema, Leopoldina, São Gabriel, Santa Lúcia e Monte Belo.

São 100 hectares no Vale dos Vinhedos

Os vinhos Miolo fazem bastante sucesso, com destaque para os tintos da linha Single Vineyard Pinot Noir e Touriga Nacional, o Cuvée Giuseppe Merlot-Cabernet Sauvignon, o nordestino Testari Syrah, o Quinta do Seival Castas Portuguesas, os espumantes Cuvée Tradition e a série Millésime Brut e Rosé e, claro, os tintos top Lote 43 e Sesmarias.

Uma curiosidade sobre o Lote 43, que nasceu meio ao acaso. Foi lançado em 2001, com o vinho da grandiosa safra de 1999. Quando os lotes daquela colheita ainda descansavam na adega, a equipe da Miolo percebeu que uma determinada parcela se destacava das demais, pela estrutura e equilíbrio. Decidiu então engarrafá-la separadamente.

Na hora de escolher um nome para aquele novo rótulo, lembra Fábio Miolo, irmão de Adriano, pensava-se inicialmente em Gran Reserva, pois alguns anos antes a casa havia entregue o Miolo Reserva. Mas na época, outra empresa utilizou a designação Gran Reserva em um vinho e foi preciso buscar uma alternativa.

“Lembramos então do nosso bisavô Giuseppe, que chegou da Itália em 1897”, conta Fábio. “Pesquisamos a escritura original das primeiras terras em nome dele, onde hoje é o Vale dos Vinhedos, e lá estava escrito o endereço Lote Rural 43”. O tinto foi batizado então como Lote 43, mesmo nome do vinhedo. É produzido apenas em anos excepcionais. Por coincidência, esta parcela especial da vinha se localiza junto à própria sede da Miolo.

 

O Íride Nature 10 anos

Antônio, Darcy e Paulo Miolo, os fundadores

Com tanta história, há uma década a família começou a pensar na futura comemoração dos 30 anos da vinícola, que se realizariam agora, em 2019. Adriano Miolo observa que a safra de 2009 foi especial na Serra Gaúcha para Chardonnay e Pinot Noir, ponto de partida dos melhores espumantes da região. Daí nasceu o desenho do vinho para a celebração.

A ideia foi selecionar as melhores uvas, elaborar o vinho base, fazer a segunda vinificação na própria garrafa (método clássico) e deixar tudo repousando nas caves, para ganhar cada vez mais complexidade. E isso foi feito por 10 anos, como nas melhores cuvées de Champagne.

Deve-se lembrar antes que a Denominação de Origem Vale dos Vinhedos (DOVV), localizada em terras dos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, foi a primeira indicação geográfica reconhecida no Brasil, em 2012. Estabelece regras que devem ser seguidas pelos produtores locais se quiserem mencionar a DO em seus rótulos.

No caso de espumantes naturais, só podem ser elaborados pelo Método Tradicional, ou clássico, em que a segunda fermentação ocorre na garrafa. As uvas Chardonnay e/ou Pinot Noir são de uso obrigatório. Devem passar pelo menos 9 meses em contato com as leveduras, antes do dégorgement, ou retirada das borras.

Feita a limpeza, a adição de menos ou mais gramas de açúcar no licor de expedição estabelece os diferentes estilos da categoria de espumantes secos – Nature, Extra-Brut e Brut.

O Íride Miolo Sur Lie Nature 10 Anos atende a todas essas exigências e vai muito além. O próprio rótulo dá pistas. O número, 10 anos, indica o tempo em que, depois da segunda fermentação, permaneceu na garrafa, sur lie, isto é, sobre as lias, as borras deixadas pelas leveduras mortas, o que proporciona cremosidade.

É bem mais que os 9 meses estabelecidos pela legislação. Já nature significa que é bastante seco, pois não teve adição de nenhum grama de açúcar no licor de expedição.

Na hora de escolher como chamar o espumante da celebração dos 30 anos, o nome da avó pareceu o mais indicado. Adriano Miolo ressalta que ela sempre dizia que queria ver a marca Miolo registrada em vinhos bem sucedidos no mundo inteiro.

“Imprimir o nome da nonna Íride em nosso espumante mais sublime é uma singela e justa homenagem”, afirma o enólogo e superintendente do grupo. “Com isso, estamos eternizando sua força. Esposa de imigrante, muito jovem tornou-se viúva e soube levar adiante o legado da família com bravura e determinação”.

Outra curiosidade: segundo Adriano, em casa a nonna era chamada de Írdes. Para imprimir o nome dela no rótulo, alguém resolveu pesquisar nos documentos oficiais. Aí os netos descobriram que seu nome verdadeiro era Íride. A seguir, a avaliação do vinho.

 

Íride Miolo Sur Lie Nature 10 Anos 2009

Miolo Wine Group – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – R$ 350 – Nota 93

A Miolo produz espumantes pelo método tradicional há 24 anos. Mas é a primeira vez que elabora um nature, sem acréscimo de açúcar no licor de expedição. A cuvée especial, que passou 10 anos em contato com as borras, mostra realmente classe, um vinho complexo nos aromas e na boca. Tudo foi feito à mão, artesanalmente, da colheita das uvas à rotulagem das garrafas. Com uvas da safra de 2009, mistura 75% Pinot Noir, do vinhedo Santa Lúcia, e 25% Chardonnay, da vinha São Gabriel. Rico de nariz, traz as notas que se espera de um espumante envelhecido, como pão, brioche, frutas secas, tostados. Apresenta ainda marmelada e algo de mel. Na boca é estruturado, cremoso, envolvente, untuoso, com acidez firme e equilíbrio. Por isso, apesar da idade oferece grande frescor. A extração suave, com poucos polifenóis, evitou a oxidação precoce, comum a muitos espumantes deste perfil. Interessante notar que, embora bastante seco, não é agressivo, pois o contato prolongado com as lias agrega maciez e uma sensação de dulçor. Dele a Miolo preparou apenas 1.830 garrafas, em embalagem luxuosa. Mas o projeto Nature 10 Anos deu tão certo que não termina com o fim das comemorações pelos 30 anos da vinícola. O enólogo Adriano Miolo informa que está guardando igualmente nas caves, para lançar uma década depois, garrafas de espumantes das colheitas de 2011, 2012, 2015 e 2018, as melhores desses últimos tempos no Vale dos Vinhedos. Quem viver, verá! (12%).

 

 

 

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