Vinhos da Espanha, tradição e modernidade

Vinhos da Espanha, tradição e modernidade

Alguns dos vinhos provados

Nos últimos anos, a Espanha ultrapassou a França e se tornou o quinto maior fornecedor de vinhos importados para o mercado brasileiro. O avanço é fruto da qualidade dos rótulos, de uma política de preços mais acessível e de investimentos para a conquista de novos consumidores. O país não quer parar por aí. No final de outubro, um grupo de nove vinícolas espanholas esteve em São Paulo para promover seus rótulos e fortalecer sua presença aqui.

O evento Vinhos da Espanha no Brasil 2019 começou com uma masterclass destinada a profissionais do setor, em que foram provados nove vinhos, e prosseguiu com uma feira em que os produtores mostraram muitos outros rótulos. Participaram as empresas Arzuaga Navarro, Bodegas Habla, Bodegas Franco Españolas, García Carrión, González Byass, Manzanos, Nexus, Roqueta Origen e Torres.

As estatísticas ressaltam que nos últimos 10 anos a Espanha triplicou suas exportações para o Brasil. Hoje o país ibérico detém 6,70% em valor e 5,96% em volume do nosso mercado. Iniciativas como a do tasting em São Paulo ajudam a dar maior visibilidade aos rótulos espanhóis por aqui.

O encontro foi promovido pelo ICEX – España Exportación e Inversiones, entidade público empresarial do Governo da Espanha, através do Escritório Comercial da Embaixada da Espanha no Brasil, com realização da CH2A, agência especializada em negócios relacionados ao vinho.

 

Grande renovação

O encontro foi promovido pelo Icex

A Espanha tem realmente muito o que mostrar. Nas últimas décadas a indústria vinícola local se modernizou e passou por grandes transformações. Os tintos tradicionais espanhóis eram conhecidos como muito amadeirados. Dizia-se que eram vinhos para conhecedores. Depois da renovação, o panorama mudou, com investimentos em tecnologia e visão atualizada, sem perder o melhor da tradição.

O país tem a maior área de vinhedos do mundo – cerca de 1milhão de hectares, distribuídos por todo seu território. Com mais de 5 mil bodegas, é o terceiro maior produtor mundial de vinhos, somando 32 milhões de hectolitros por ano, atrás apenas de Itália e França.

Por sua enorme diversidade de climas, solos e uvas, a Espanha oferece vinhos comerciais, com apelo popular, mas também rótulos de grande qualidade. A produção de vinhos é controlada por regras claras e representa certa garantia para o consumidor.

 

Os vinhos

As vinícolas que participaram do evento Vinhos da Espanha no Brasil 2019, realizado em São Paulo, formam um time de produtores confiáveis. Elas apresentaram aos visitantes mais de 60 rótulos diferentes, entre tintos, brancos, rosés e espumantes.

Os vinhos vieram das DOs Pla de Bages, Terra Alta, Catalunya, Ribera del Duero, Extremadura, Jerez, Somontano, Rías Baixas, Penedès, Valdepeñas, Costers del Segre; da DOCa Rioja; e VT/IGP Castilla. Avaliamos alguns deles aqui, para dar um panorama dos vinhos provados.

 

Lafou Els Amelers Garnatxa Blanca 2016

Lafou Celler – DO Terra Alta – Espanha – Decanter – R$ 247,90 – Nota 91

Branco muito bom, produzido pela bodega Lafou Celler, situada na DO Terra Alta, na Catalunha, perto do Mar Mediterrâneo. Pertence ao grupo Roqueta Origen, da família Roqueta, que remonta ao século XII. O clã é dono também das vinícolas Abadal (DO Pla de Bages), Crin Roja (VT/IGT Castilla) e Ramon Roqueta (DO Catalunya). O vinho é 100% Garnacha Blanca, de vinhas velhas, em solo pedregoso. Fermenta em cubas de inox, onde permanece por 7 meses, em contato com as borras. Pequena parcela (10%) depois tem estágio de quatro meses em barricas de carvalho. Traz ao nariz cítricos, damasco, mel, notas florais e algo herbáceo. Mostra acidez expressiva, bom corpo, volume em boca e final longo. Gostoso jogo entre cremosidade e frescor (13,5%).

 

Torres Mas Borrás Pinot Noir 2014

Família Torres – Penedès – Espanha – Devinum – R$ 240 – Nota 92

O grupo Familia Torres, fundado em 1870, é hoje um dos mais modernos da Espanha. Possui 1.300 hectares de vinhedos próprios e seis bodegas em seis diferentes DOs. A sede fica no Penedès. Teve grande avanço sob o comando do dinâmico Miguel A. Torrres, que atualizou técnicas de viticultura e enologia. Ele continua na presidência, mas desde 2012 deixou a direção geral do grupo com o filho mais velho, Miguel Torrres Maczassek, quinta geração da família.

a empresa produz muitos vinhos interessantes, entre eles este Pinot Noir. A uva, delicada e de trato difícil, se deu bem no clima mais frio de Santa Maria de Miralles, no Penedès Superior, onde se localizada a histórica Finca de Mas Borrás, a 520 m de altitude. Traz ao nariz pitanga, cereja, framboesa, em meio a notas de especiarias e café. Tem corpo médio, é envolvente, macio, com ótima acidez e taninos suaves, que reforçam a sensação de fineza e elegância (13,5%).

 

Beronia Reserva 2014

Bodegas Beronia – Rioja – Espanha – Inovini/Aurora – R$ 240 – Nota 92

Beronia é um velho conhecido dos brasileiros e faz sucesso por aqui. A vinícola, fundada na Rioja Alta em 1973, foi comprada nos anos 1980 pela centenária González Byass. Criada em 1835 em Jerez, na Andalucia, González Byass se tornou com o tempo um dos maiores e mais prestigiados grupos espanhóis ligados ao vinho. Todos associam sua imagem à do famoso Jerez Tio Pepe. Além de Jerez e Rioja, tem bodegas também na Catalunha, Toledo e Somontano. A bodega Beronia explora 900 hectares de vinhas próprias e de parceiros, na zona de Ollauri. Seu Reserva, lote de 95% Tempranillo, temperado por 5% de Graciano e Mazuelo, de vinhas velhas, entre 50 e 70 anos, amadurece por 20 meses em barricas mistas de carvalho americano e francês. É quase o dobro do que exige a legislação. Depois envelhece por 16 meses em garrafa. Os aromas ricos envolvem figo, ameixa e cereja, com notas florais, de cera de abelha e tostados. Na boca é estruturado, com bom corpo, tem taninos maduros, equilíbrio, acidez refrescante e muito frescor. Um tinto entre o clássico e o moderno. O nome da vinícola foi dado em lembrança aos berones, povo guerreiro e agrícola de origem celta, que no passado habitava a Beronia, onde hoje é a Rioja (14%).

 

Pisarrosas 2014

Nexus & Frontaura – Ribera del Duero – Espanha – Domno – R$ 240 – Nota 91

São duas bodegas familiares, sob o comando de uma mulher combativa, Camino Pardo. Nexus, com 40 hectares de vinhedos, se localiza em Pesquera de Duero, na DO Ribera del Duero; e Frontaura, com 120 ha. de vinha, em Zamora, na DO Toro. Seu tinto, 100% Tempranillo, vem do vinhedo próprio Pago de Pisarrosas, em Pesquera de Duero, situado a 950 metros de altitude. Os solos calcários e franco-argilosos, bastante pobres, dão uvas com cachos pequenos, de maturação tardia, mas com grande potencial de qualidade. O tinto, com repouso de 12 meses em barricas de carvalho francês da floresta de Allier, mostra ao nariz figo e cereja, além de notas terrosas, de especiarias e tabaco. Encorpado, tem taninos maduros, boa acidez e agradável final (14%).

 

Pata Nega Valdepeñas Gran Reserva 2009

Bodega Los Llanos/Grupo García Carrión – DO Valdepeñas – Casa Flora/Porto a Porto – R$ 110 – Nota 89

A centenária empresa García Carrión, fundada em 1890 na cidade de Jumilla, região de Múrcia, e em mãos da mesma família até agora, está presente em 10 DOs e é considerada a maior produtora de vinhos europeia em volume. Pata Negra é uma das marcas do grupo, registrada em várias denominações de origem. Este Gran Reserva vem de vinhedos situados na DO Valdepeñas, zona central do país. Feito com Tempranillo, é um tinto maduro, clássico, que estagia por 36 meses em barricas usadas de carvalho americano e francês, permanecendo depois mais um período em garrafa nas caves. Apresenta evolução na cor e nos aromas, que trazem notas de frutas vermelhas, frutas secas e toques da madeira. Em corpo médio, é macio, longo e fácil de beber (13%).

 

 

 

 


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