Almaviva 2014, à altura dos melhores

Almaviva 2014, à altura dos melhores

 

A mais recente safra de um dos grandes ícones do Chile, o Almaviva 2014, vai chegar ao mercado no início do próximo ano, mas já foi apresentada para a imprensa especializada pelo enólogo francês Michel Friou. É um vinho espetacular, à altura de grandes anos anteriores, como 2001, 2003, 2005 e 2007. O 2014 tem muita fruta madura, concentração, estrutura, complexidade e, sobretudo, fineza.

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Almaviva: expressão do terroir de Puente Alto, no Maipo

Almaviva é uma parceria entre o grupo francês Baron Philippe de Rothschild e a gigante chilena Concha y Toro. Começou em 1997, quando a baronesa  Philippine de Rothschild e a família Guilisasti se juntaram para produzir um vinho premium que fosse a melhor expressão de um vinhedo do Chile, dentro do conceito de um château de Bordeaux. Assim, o Almaviva tem um terroir privilegiado, Puente Alto, no vale do Maipo, perto de Santiago; equipamentos e uma equipe dedicada exclusivamente à sua produção, em uma vinícola criada especialmente para isso.

O rótulo resume a integração das duas famílias e das duas culturas. Como se sabe, o nome faz referência ao Conde Almaviva, personagem das três comédias escritas pelo francês Pierre Beaumarchais (1732-1799), entre as quais “As Bodas de Fígaro”, transformada em conhecida ópera-bufa por Mozart (1756-1791). A participação chilena é vista nos símbolos estilizados, inspirados na visão da Terra e do universo pela civilização indígena Mapuche.

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São 85 hectares de vinhedos exclusivos, com solo aluvial

Para o projeto, a direção da Concha y Toro separou 85 hectares de terras especiais. Em 2013, as uvas que entram em  sua elaboração passaram a vir do vinhedo El Tocornal, na zona de Puente Alto. Ali o clima, seco e com poucas chuvas, é influenciado pela proximidade da Cordilheira dos Andes. Tem boa amplitude térmica, isto é, a diferença de temperatura entre os dias quentes e as noites frias, o que favorece a perfeita maturação das uvas. O solo aluvial, pedregoso e pouco fértil, contribui para o estresse que faz a videira aprofundar suas raízes e buscar os nutrientes de que necessita.

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Nas caves, estágio de até 18 meses em carvalho francês

A primeira versão do Almaviva, a de 1996, chegou ao mercado em 1998. A produção, desde então, se mantém em torno de 150 mil garrafas por ano. Os enólogos franceses e chilenos trabalham com variedades típicas de Bordeaux, a saber, Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Petit Verdot, às quais se juntaram Malbec e Carmenère, redescobertas no Novo Mundo. Os vinhos estagiam até 18 meses em barricas de carvalho francês.

O experiente Michel Friou passou a ser o winemaker em 2007 e aos poucos imprimiu seu estilo. “Ao longo desses anos houve algumas mudanças no manejo dos vinhedos”, explica o enólogo. “Reduzimos a água para a irrigação das vinhas no início da maturação, depois do chamado pintor”. Além do amadurecimento vegetativo, também se busca agora a maturação dos taninos.

São alterações saudáveis que só podem melhorar ainda mais um vinho que já nasceu estrelado e concorre com os grandes do mundo. Ao apresentar o Almaviva 2014, Michel Friou ofereceu degustação para compará-lo com as edições de 2001 e 2009. A seu ver, 2009 foi ano tranquilo, com nível normal de chuvas no inverno, primavera favorável, verão quente e seco. Com a floração intensa, foi necessário fazer a poda verde das uvas, para evitar excessos de produção e melhorar a concentração.

Já 2014 e 2001 guardam semelhanças, pois foram safras de produção reduzida e grande concentração de fruta. Ambas tiveram clima temperado, mas com um regime de chuvas diferente. Na primeira houve registro de 500 mm de chuva nos meses do inverno anterior, de junho a setembro, e na de 2014, a metade disso.

Ainda no caso desta última, houve geadas. A brotação da Cabernet Sauvignon se atrasou e foi limitada, mas com boa concentração. Ao final, o verão caloroso fez adiantar o pintor e depois a colheita, que começou mais cedo do que o habitual. Na soma, a safra acabou equilibrada e é considerada excepcional.

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A baronesa Phillipine queria um tinto chileno e alma de château

A edição de 2014, a 19ª, foi lançada oficialmente em 7 de setembro passado em Bordeaux, com uma homenagem especial à baronesa Philippine de Rothschild, que morreu em agosto de 2014. Visionária, a grande dama do vinho francês sucedeu o pai e comandou com brilho durante 16 anos o grupo de vinícolas da família, entre as quais lendas como o Château Mouton Rothschild.

A exemplo dos principais rótulos de Bordeaux, o Almaviva não tem um importador exclusivo no Brasil – mercado importante para a marca, pois comercializa cerca de 20 mil garrafas por ano. O preço do 2014 será consolidado quando chegar por aqui, no início de 2017. Já se sabe que não será barato, à altura da fama que conquistou. Como referência, o Almaviva 2013, ainda encontrado em lojas e serviços especializados, custa perto de R$ 1.000,00 a garrafa. A vinícola, a exemplo dos grandes châteaux franceses, também produz um segundo vinho, o ótimo Epu.

 

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Almaviva – Vale do Maipo – Chile – Nota 95

Tinto untuoso, corte de 68% Cabernet Sauvignon, 22% Carménère, 8% Cabernet Franc e 2% Petit Verdot, com estágio de 18 meses em barricas novas de carvalho francês. Intenso no nariz, lembra cassis e amora, em meio a notas florais, de especiarias e madeira. Estruturado, concentrado, tem taninos firmes, maduros, de boa qualidade, ótima acidez e frescor. Um vinho suculento, estupendo. Ainda é jovem, com muito potencial para guarda, mas pelo equilíbrio e fineza já se bebe com prazer (15%).

 

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Almaviva – Vale do Maipo – Chile – Nota 93

Vem de 73% Cabernet Sauvignon, 22% Carménère, 4% Cabernet Franc e 1% Merlot, amadurecido por 18 meses em carvalho francês novo. Menos estruturado, destaca-se pela fineza. Nos aromas mostra notas de azeitona, florais, de especiarias e alcaçuz, em base de fruta madura, a cereja e cassis. Sedoso na boca, é macio e fácil de beber. Um grande vinho, bela expressão do Almaviva (14%).

 

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Almaviva – Vale do Maipo – Chile – Nota 94

Tem o perfil de um Bordeaux clássico, já com notas de evolução. Misto de

70% Cabernet Sauvignon, 27% Carménère e 3% Cabernet Franc, com passagem de 17 meses por barricas novas de carvalho francês, mostra riqueza de aromas, como café, couro, ervas secas, especiarias e ameixa. Estruturado, concentrado, tem taninos presentes, maduros, integrados à fruta, com um final longo e elegante. Um tinto pleno, lindamente afinado pelo tempo (14%).


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