Os melhores vinhos de 2016

Os melhores vinhos de 2016

Entre os quase mil vinhos provados no ano passado, muitos se destacaram pela harmonia e elegância. Rótulos importados e também brasileiros. O critério de notas é pessoal, claro, mas busca levar em conta o que está na taça e como o vinho se apresenta no momento em que foi degustado. Se for para escolher uma característica fundamental, indico equilíbrio e elegância.

Aqueles vinhos extraídos, com excesso de taninos e de madeira, que faziam sucesso há alguns anos, agora incomodam. Boa fruta, taninos maduros, estrutura na medida, frescor e fineza contam pontos.

No caso dos vinhos nacionais, vale destacar que estão em processo contínuo de melhoria, especialmente espumantes e tintos. E algumas provas este ano mostram que envelhecem bem.

Brasil Vinhos apresenta os campeões do ano, divididos em duas categorias: Os 10 melhores vinhos de 2016 e Os 5 melhores vinhos brasileiros de 2016.

 

Os 10 melhores vinhos de 2016

Gaja Brunello SugarilleGaja Brunello di Montalcino Sugarille 2010

Pieve Santa Restituta/Gaja – Toscana – Itália – Mistral – R$ 1.384 – Nota 95

Aos 76 anos, Angelo Gaja, um dos ícones da vinicultura italiana, demonstra grande vitalidade, sempre atento aos temas do momento. Em sua última visita a São Paulo, em abril do ano passado, ressaltou que a maior preocupação atual é com as mudanças no clima do planeta e disse que nos últimos anos tem buscado proteger seus vinhedos no Piemonte e na Toscana com práticas naturais e de sustentabilidade, destinadas a revigorar o solo e garantir a diversidade da vida. Como se sabe, Gaja conquistou fama inicialmente no Piemonte, com seus Barbarescos monumentais. Para expandir as atividades, foi para a Toscana, onde em 1993 comprou sua primeira vinícola, Pieve Santa Restituta, na zona de Montalcino, com 16 hectares. Lá produz este belíssimo Brunello, feito com uvas do vinhedo Sugarille. Untuoso, denso e profundo, apresenta complexidade de aromas, estrutura poderosa e, ao mesmo tempo, a classe e elegância que distinguem os sedutores vinhos da casa. Bebe-se já com prazer, mas tem vida longa pela frente. O tinto da safra 2010 foi provado por ocasião desta visita de Angelo Gaja ao Brasil. No catálogo da importadora está à venda o rótulo da colheita de 2006, a que o preço indicado faz referência.

 

Cobos Malbec 2013Cobos

Viña Cobos – Mendoza- Argentina – Grand Cru – R$ 1.565 – Nota 95

O enólogo norte-americano Paul Hobbs frequenta os vinhedos argentinos desde 1989, primeiro a serviço de Nicolás Catena, depois no comando de sua própria vinícola, a Cobos. Nesse período, aprendeu a conhecer e a manejar a Malbec, de que se tornou um especialista. A Viña Cobos administra cinco vinhedos, próprios ou de agricultores parceiros. O primeiro, e mais interessante, chama-se Marchiori e se localiza em Perdriel, Lujan de Cuyo, a quase mil metros de altitude. Tem algumas vinhas velhas, com mais de 80 anos de idade, em solos profundos, franco-argilosos, com presença de pedras, e baixo rendimento. De lá vêm as uvas para o tinto emblemático da casa, 100% Malbec, afinado por 17 meses em barricas novas de carvalho francês. Madeira e fruta estão muito bem entrosadas. Ao nariz lembra cassis e ameixa, com notas de chocolate, tabaco e especiarias. Na boca é encorpado, carnudo, mas equilibrado e macio. Ótima expressão da principal casta argentina.

 

AlmavivaAlmaviva 2014

Almaviva – Vale do Maipo – Chile – Nota 94 – R$ 1.000

A vinícola é uma bem sucedida parceria entre o grupo francês Baron Philippe de Rothschild e a gigante chilena Concha y Toro. O tinto reúne o melhor das duas culturas. Nesta safra, o experiente enólogo Michel Friou utilizou 68% Cabernet Sauvignon, 22% Carménère, 8% Cabernet Franc e 2% Petit Verdot, com estágio de 18 meses em barricas novas de carvalho francês. Os aromas trazem cassis e amora, em meio a notas florais, de especiarias e madeira. Encorpado, tem taninos firmes, maduros, de boa qualidade, ótima acidez e frescor. Um vinho suculento, estupendo. Ainda é jovem, com muito potencial para guarda, mas pelo equilíbrio e fineza já se bebe com prazer (15%). A exemplo dos principais rótulos de Bordeaux, o Almaviva não tem um importador exclusivo no Brasil.

 

Valtellina Inferno Fiamme Antiche 2011Inferno Fiamme Antiche

ArPePe – Valtellina – Itália – Decanter – R$ 524,40 – Nota 94

Valtellina, região ainda não muito conhecida, é um vale dos Alpes na região da Lombardia, no nordeste da Itália, fronteira com a Suíça. Curiosamente, Inferno é uma de suas melhores sub-regiões, terra de tintos classificados como DOCG.  Ali a família de Arturo Pelizzatti Perego trabalha muito bem a Chiavennasca, nome local da Nebbiolo, a uva dos grandes vinhos do Piemonte. O Fiamme Antiche fermenta com leveduras indígenas em tonéis de 500 litros (botti), onde parte do vinho repousa por 24 meses. Outra parte estagia em barricas de carvalho. Evoluído, delicado, é rico de aromas e macio na boca. A mineralidade recorda o solo granítico de onde vem (13,5°%).

 

Achaval Finca AltamiraAchával Ferrer Finca Altamira 2013

Achával Ferrer – Mendoza – Argentina – Inovini – R$ 980 – Nota 94

A vinícola, criada em 1998 pelos enólogos Santiago Achával, Roberto Cipresso e um grupo de amigos, mantém a chama e surpreende a cada safra com tintos espetaculares. O foco, desde o início, é a Malbec. A Finca Altamira, sua primeira propriedade, tem 12 hectares e se situa na zona de La Consulta, no vale de Uco, a 1.050 m acima do nível do mar, com solos de origem aluvional, marcados por uma capa de cinza depositada no passado pelo vulcão Tupungato e pedras redondas. As vinhas de Malbec, com mais de 85 anos, plantadas em pé franco, apresentam baixíssimo rendimento natural, apenas 400 gr de uva por videira. Ou seja, são necessários os cachos de três plantas para produzir uma única garrafa. Por isso dão tintos diferenciados. O Achával Ferrer Finca Altamira, 100% Malbec, amadurecido por 15 meses em carvalho francês, é delicioso, agradavelmente equilibrado. Os aromas trazem fruta madura a ameixa, em meio a notas terrosas e de especiarias. Untuoso, macio, mostra bom corpo, estrutura e frescor, com final persistente, super elegante (14,5%).

 

Barolo Preve Reserva 2010Barolo Preve

Gianni Gagliardo – Piemonte – Itália – World Wine – R$ 1.832 – Nota 94

Nos anos 1970, Gianni Gagliardo casou-se com a filha do viticultor Paolo Colla, dono de uma vinícola na zona de Barolo, e entrou no mundo do vinho. Logo passou a comandar a casa, que tem 25 hectares de vinhedos. Um deles é o Preve, plantado em 2000 em Serralunga, a partir de antigos clones de Nebbiolo das terras da família. O tinto é produzido principalmente com uvas desta vinha, com pequena parcela vinda de outra propriedade, da área de Monforte, de solo menos arenoso. Serralunga é elegância, Monforte, potência. A mescla traduz o estilo do vinho, bem estruturado, com taninos finos e macios. Nos aromas há cereja, ameixa, cassis, algo de anis e especiarias. Elegante, tem boa acidez e frescor final (13,5%). O exemplar de 2010 foi provado durante visita de Gianni Gagliardo a São Paulo, em maio. O preço se refere à versão de 2006, que aparece no catálogo da importadora.

 

ChryseiaChryseia 2012

Chryseia/Prats & Symington – Douro – Portugal – Mistral – R$ 689,50 – Nota 94

Mais um encontro de sucesso no mundo do vinho. Desta vez, da família Symington, há muito radicada em Portugal, onde produz especialmente Vinhos do Porto memoráveis, como Graham’s e Quinta do Vesúvio, com a família francesa de Bruno Prats, antigo dono do Château Cos-d’Estournel. O projeto foi iniciado em 1998, a partir de duas propriedades dos Symington junto ao rio Douro, a Quinta de Perdiz e a Quinta de Roriz. O tinto, clássico até a raiz, é um lote de Touriga Nacional e Touriga Franca, com repouso de 12 meses em barricas novas de carvalho francês. A tipicidade das castas aparece ao nariz, onde há notas florais, de figo e ameixa, bem como de tabaco. Na boca apresenta fina estrutura de taninos, suportados por fruta madura e muita elegância. O nome Chryseia, originário da palavra ouro, em grego, remete de imediato para o Douro.

 

Cabreo Il Borgo 2009Cabreo il Borgo

Folonari – Toscana – Itália – Cantu – R$ 490 – Nota 94

A família Folonari produz vinhos há mais de dois séculos na zona do Chianti e desde 2000 é comandada por Giovanni Folonari, representante da oitava geração do clã. A empresa possui cinco propriedades na Toscana, sendo uma delas a Tenute del Cabreo, com 70 hectares de vinhas em duas localidades perto de Greve in Chianti. Ali nasce o tinto, corte de 70% Sangiovese e 30% Cabernet Sauvignon, amadurecido por 18 meses no carvalho francês (40% novo). Muito fino, traduz nos aromas tabaco, cedro e especiarias, em base frutada a ameixa. Tem bom corpo, é equilibrado e elegante, o que o torna delicioso para beber.

 

ZambujeiroZambujeiro 2009

Quinta do Zambujeiro – Borba, Alentejo – Portugal – Casa Flora/Porto a Porto – R$ 715 – Nota 94

A vinícola surgiu em 1998, quando a tradicional Quinta do Zambujeiro foi comprada pelo empresário suíço Emil Strickler, apaixonado por vinhos, com o objetivo de produzir apenas tintos e brancos de alta gama. A propriedade, situada na sub-região de Borba, ao norte da Serra D’Ossa, tem vinhas com mais de 45 anos, baixos rendimentos e um terroir privilegiado. O solo calcário-xistoso agrega mineralidade e o fato de os vinhedos estarem a 400 m de altitude, acima da média regional, favorece a produção de uvas com boa acidez e frescor. Hoje a vinícola cultiva 40 hectares de vinhedos, sendo 22 ha próprios e 18 ha sob contrato. Seu tinto top, provado novamente em 2016, é lote de 47% Touriga Nacional, 47% Alicante Bouschet, 4% Petit Verdot e 2% Tinta Caiada, selecionadas das melhores uvas da colheita. Fermentado em balseiros de carvalho francês, amadurece por 24 meses em barricas novas. É um tinto gordo, suculento, com muita fruta, como cassis e groselha, mesclada com notas tostadas, de chocolate, de especiarias e grafite. É encorpado, mas tem taninos finos, frescor e equilíbrio para sustentar o álcool. Um vinho bastante elegante (15,5%).

 

CH by Chocapalha 2009Chocapalha CH 2

Casa Agrícola das Mimosas – Lisboa – Portugal – Adega Alentejana – R$ 430 – Nota 93

Bela surpresa preparada pela talentosa enóloga Sandra Tavares da Silva, com uma seleção de uvas da propriedade de seus pais na região demarcada de Lisboa, no município de Alenquer, a apenas 45 km da capital portuguesa. A Quinta de Chocapalha, com 45 hectares, tem uma história rica, referida desde o século XVI. Na segunda metade dos anos 1800 foi doada ao escocês Diogo Duff e permaneceu em posse da família até a década de 1980, quando foi comprada por Alice e Paulo Tavares da Silva, pais de Sandra. O casal introduziu melhorias no campo e em 2000 resolveu engarrafar o próprio vinho. Em 2012 inaugurou uma nova adega, que reúne modernidade e tradição, presente em quatro lagares para pisa a pé das uvas. Seu tinto, 100% Touriga Nacional de vinhas velhas, é fermentado nos lagares e afinado por 24 meses em carvalho francês novo. Muito bem acabado, é intenso, profundo, traz ao nariz frutas vermelhas maduras, mescladas com notas florais. Na boca é untuoso, equilibrado, tem boa acidez e taninos polidos, um grande vinho (14%).

 

 

Os 5 melhores vinhos brasileiros de 2016

StoriaCasa Valduga Gran Storia Merlot 2011

Casa Valduga – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – R$ 230 – Nota 92

O tinto emblemático da família Valduga foi lançado em 2005, safra excepcional no Brasil, e só é produzido em anos especiais, com a Merlot do Vale dos Vinhedos. O enólogo Daniel Dalla Valle explica que é feita rigorosa seleção de uvas. A colheita é parcelada, com várias passadas para coletar apenas os cachos no ponto de amadurecimento ideal. Outra seleção de grãos é realizada na cantina, onde o vinho permanece de12 a 18 meses em barricas novas de carvalho francês e dois anos em cave. O exemplar de 2011, o último a chegar ao mercado, amadureceu na madeira por 18 meses e mostra que atingiu grande nível de qualidade. Nos aromas há cerejas, alcaçuz, tabaco, especiarias e notas florais. Na boca apresenta estrutura, taninos finos, untuosidade e muita elegância. Pode-se beber já ou guardar por mais alguns anos (14%).

 

Aurora Millésime Cabernet Sauvignon 2012Aurora Millesime

Vinícola Aurora – Bento Gonçalves, RS – Brasil – R$ 97 – Nota 91

O tinto da excelente safra de 2012 foi lançado em 2016, quando a Vinícola Aurora completou 85 anos e sua diretoria anunciou ter liquidado, com quatro anos de antecedência, a dívida pesada negociada em 2000 com um grupo de bancos credores, o que indica a plena recuperação da cooperativa. O vinho preparado pela equipe do enólogo Flávio Zílio está à altura dos fatos e pode ter sido o melhor já produzido na casa. É 100% Cabernet Sauvignon, com passagem de 12 meses por barricas de carvalho novo francês e americano. No nariz há boa fruta madura a ameixa e cereja, em meio a notas de cacau, tabaco e especiarias. Carnudo, tem acidez firme, taninos maduros, um conjunto fino e equilibrado, bom para acompanhar comida (13%).

 

Lote 43Miolo Lote 43 2012

Miolo – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – R$ 178,50 – Nota 91

A vinícola Miolo produz seu tinto ícone apenas em anos excepcionais, como 2012, em que todas as condições climáticas foram favoráveis. O Lote 43 foi lançado em 2001, com o vinho da colheita de 1999, e de lá para cá foram somente sete edições. O nome se refere ao número do lote rural que o bisavô Giuseppe Miolo comprou ao chegar ao Rio Grande do Sul, em 1897, vindo do Vêneto. Eram 24 hectares no atual Vale dos Vinhedos, onde a família está radicada até hoje. O tinto é sempre tratado com cuidados especiais. As vinhas destinadas a ele têm baixos rendimentos, cerca de 1,5 kg por planta, muito menos que o habitual, o  que favorece a concentração. Para esta última versão, o enólogo Adriano Miolo selecionou 60% de Merlot e 40% de Cabernet Sauvignon e deixou o vinho por meses em barricas de carvalho francês, com um tempero de carvalho americano. Os armas mesclam notas de eucalipto, especiarias, tabaco e frutas secas, em base de ameixa. Na boca se mostra aveludado, elegante, profundo. Tem força e elegância, o que enriquece o conjunto.

 

Adolfo Lona Nature – Pas DoséAdolfo Lona Nature

Adolfo Lona – Garibaldi, RS – Brasil – R$ 95 – Nota 91

O enólogo argentino Adolfo Lona chegou ao Brasil na década de 1970 e não saiu mais. Hoje, aposentado, toca sua própria vinícola em Garibaldi, na Serra Gaúcha, e produz alguns dos melhores espumantes do país. Um deles é este, elaborado pelo método clássico. O nome indica que o vinho, após a segunda fermentação na garrafa, onde permaneceu por 18 meses em contato com as borras, não teve adição de licor de expedição, em que se faz a dosagem de açúcar. Apresenta apenas a taxa de açúcar residual da uva, que a legislação destinada a Nature, ou Pas Dosé, estabelece em até 3 gr. por  litro. O corte, não muito habitual, é de Chardonnay, Merlot e Pinot Noir. O diferencial, no caso, é a presença da Merlot, escalada para tornar o vinho mais macio. Os aromas recordam frutas secas, pão, leve fumado, com notas minerais, cítricos e damasco. É seco, complexo, cremoso, estruturado e harmonioso. Não é aquele espumante fácil, adocicado, mas é muito bom.

 

Pizzato NaturePizzato Nature 2013

Pizzato – Vale dos Vinhedos, RS – Brasil – R$ 170 – Nota 91

A família de Plínio Pizzato começou a engarrafar seus vinhos em 1999 e está sempre em evolução, trabalho em que todos os filhos se envolvem. O enólogo é Flávio Pizzato, que criou este belo espumante, sem dosagem de açúcar, a partir de 85% Chardonnay e 15% Pinot Noir. Terminada a segunda fermentação, permanece por 36 meses na garrafa, em contato com as leveduras, para ganhar complexidade. Os aromas lembram abacaxi, maçã, brioche e algo mineral. Gordo, cremoso, oferece boa acidez e persistência final. Está entre os grandes espumantes nacionais lançados em 2016.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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