O brasileiro está bebendo menos vinho

O consumo de vinho no Brasil, que já era baixo, caiu um pouco mais no ano passado. A comercialização no país, incluindo todos os produtos derivados de uva, recuou 18% em 2016, em relação ao ano anterior. A retração atingiu especialmente os rótulos nacionais, pois os importados tiveram até um crescimento de 11,5% em volume. Mas o setor está otimista para 2017. Mesmo sem esperar atingir os números de anos passados, pretende pelo menos conter a sangria e recuperar a média histórica.
O consumo, tradicionalmente por volta dos 2 litros per capita, recuou para 1,7 l. Os motivos são conhecidos: crise econômica, desemprego, queda no poder aquisitivo e carga de impostos. Apesar disso, o mercado da cerveja, a grande concorrente do vinho, segue a todo vapor: produz mais de 14 bilhões de litros por ano, movimenta R$ 74 bilhões e responde por 1,6% do PIB nacional.
Segundo o Ibravin, Instituto Brasileiro do Vinho, no ano passado foram vendidos no país 343,7 milhões de litros de vinhos, sucos e outros produtos baseados na uva. O segmento dos vinhos de mesa, aqueles mais populares, e o de sucos foram os que mais sofreram, com queda de 20% em relação ao período anterior. Já o vinho fino, elaborado com uvas viníferas, caiu menos, “apenas” 2,8%.
Para compensar, o setor comemora o desempenho das exportações, que registraram alta de 45%. Em 2016, as vinícolas nacionais venderam 2,2 milhões de litros para outros países, faturando US$ 5,9 milhões. Estados Unidos (280,6 mil litros), Reino Unido, Colômbia e China estão entre os nossos cinco principais clientes. Mas, curiosamente, o maior destino do vinho brasileiro no exterior foi o Paraguai, que comprou 1 milhão de litros, pagando US$ 1,79 milhão.
Por dificuldades climáticas, no ano passado as vinícolas nacionais amargaram quebra de 57% na safra da uva. Embora cauteloso, o presidente do Ibravin, Dirceu Scottá, enólogo da casa Dal Pizzol, espera que em 2017 o setor possa recuperar os patamares de comercialização anteriores. “Até o momento”, disse ele, “a safra tem se apresentado muito positiva em sanidade, volumes e em qualidade”.
Importados
A crise afetou em menor escala a importação de vinhos estrangeiros. Na criteriosa e competente análise do setor realizada periodicamente, o consultor Adão Morellatto observa que em 2016, “depois de um deprimente 2015”, houve uma reacomodação do mercado. A redução do poder aquisitivo certamente levou os consumidores a optarem por rótulos mais baratos, pois a venda de importados teve decréscimo de 3,4% em valor. Ainda assim, em volume o crescimento foi da ordem de 11,5%.
Segundo Morellatto, “os principais agentes responsáveis por esta dinâmica são as empresas de e-commerce e os supermercados, que são menos penalizados tributariamente, conseguindo preços atraentes”. Por sua força de venda, têm condições de negociar em bases melhores com os produtores e assim oferecer rótulos de preço mais acessível.
Entre os países que abastecem o mercado brasileiro, o Chile segue firme em primeiro lugar, com 47,77% de participação em volume. Com preços atrativos, e uma estratégia agressiva de marketing, seu desempenho cresceu 17,9% de um ano para outro.
Já a Argentina, embora mantenha a segunda posição, vem apresentando queda desde 2011, certamente fruto da desastrada política agrícola do país nos últimos anos. Morellatto ressalta que os hermanos contribuem agora com 16% dos vinhos importados pelo Brasil, pouco para quem já teve quase 30% de presença. “Se a Argentina não participasse do Mercosul, com alíquotas mais benéficas que os concorrentes”, diz o especialista, “com toda certeza estaria em patamar até mais baixo”.
Portugal voltou ao 3º lugar da lista. Vendeu aqui 10,8 milhões de litros de vinho, com pequeno crescimento em volume (2,14%) e queda de 9,3% em valor. A Itália, que sempre esteve entre os cinco maiores fornecedores, desta vez teve o pior desempenho no ranking dos grandes players de nosso mercado. Mesmo com imagem arraigada, por conta da imensa colônia italiana, exportou menos 3,9% em volume do que em 2015, com total de 7,9 milhões de litros de vinho. E o custo médio de suas garrafas teve queda de 38,6% nos últimos quatro anos.
A França, outro competidor de peso, apresentou leve aumento de 1,37% em volume, mas sofreu baixa de 27,53% no custo médio de seus produtos. A posição do país sempre esteve atrelada ao desempenho do champagne, que em 2016 enfrentou queda vertiginosa nas vendas. Foi uma das consequências da crise econômica e também, sem dúvida, porque o espumante brasileiro melhora de qualidade e ganha espaço.
Por último, Morellatto chama a atenção para a performance da Espanha, o único representante europeu a mostrar crescimento de valor (mais 0,75%) e volume (19,7%). No total, foram comercializados em 2016 3,9 milhões de litros. De 2006 para cá, houve aumento de 313% nas vendas, compensando o empenho feito pelas vinícolas espanholas para melhorar a imagem de seus vinhos junto ao consumidor brasileiro. Prova de que investir é a melhor saída.
Related Articles
A família Symington, do Douro, mostra os vinhos expressivos de seu novo projeto no Alentejo
Pela primeira vez em 135 anos a família Symington, um dos maiores fornecedores mundiais de vinho do Porto premium, passou
Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa 2001, joia rara do Douro
Poucas regiões vinícolas do mundo têm este privilégio e o Douro, em Portugal, é uma delas. Ainda mantém vinhas velhas,
Vinhos Verdes melhoram padrão de qualidade
Os Vinhos Verdes ficaram mais conhecidos no Brasil pelo estilo tradicional apreciado desde os tempos dos nossos avós. São brancos