Quinta do Vallado oferece um Porto de 1888

Quinta do Vallado oferece um Porto de 1888

A Quinta do Vallado, no vale do rio Corgo

No universo vinícola, há coisas grandiosas que acontecem somente com o Vinho do Porto. Esta semana em São Paulo, João Ferreira Álvares Ribeiro, proprietário e diretor-geral da Quinta do Vallado, no Douro, em Portugal, abriu em evento organizado pela importadora P.P.S um Porto com 130 anos de idade, o estupendo Quinta do Vallado ABF 1888.

O vinho, um Tawny da categoria Very Old Port, engarrafado no ano passado para comemorar os 300 anos da casa, estava impressionantemente vivo, com boa acidez e presença. O nome faz referência a António Bernardo Ferreira I, tio e sogro da lendária Dona Antónia Adelaide Ferreira e antepassado dos atuais donos da propriedade, adquirida por ele em 1818.

O Vallado surgiu bem antes disso. Construída em 1716, é uma das quintas históricas do Douro Vinhateiro. Nos anos 1850, depois da morte do marido António Bernardo Ferreira Júnior (II), foi administrada por Dona Antónia e manteve-se sempre na posse de seus descendentes. Tem 70 hectares de vinhas nas encostas do vale do Rio Corgo, afluente da margem direita do Douro, próximo de Peso da Régua, na sub-região do Baixo Corgo.

Durante 200 anos, o Vallado produziu Vinhos do Porto, geralmente comercializados pela Casa Ferreira, que também estava em mãos da família. Nos anos 1990, sob o controle de João Ferreira e Francisco Ferreira, trinetos de Dona Antónia, a quinta passou a elaborar tintos e brancos de mesa e Portos com marca própria. Seus vinhos, vinificados hoje pelo enólogo Francisco Olazábal, o Xito, igualmente trineto da Ferreirinha, têm admiradores no mundo todo.

A empresa possui 70 hectares de vinhas no Baixo Corgo, onde mantém um Wine Hotel. E em 2009 comprou mais 40 hectares no Douro Superior, na Quinta do Orgal, em Castelo Melhor – Vila Nova de Foz Côa, na direção da fronteira com a Espanha. Ali implantou vinhedos com manejo orgânico e também construiu pequeno e charmoso hotel, o Casa Rio.

Em 2016, os gestores quiseram marcar o tricentenário de fundação com um vinho diferenciado e saíram pelo Douro a procurar Portos antigos. Encontraram o que pretendiam na cave de um pequeno produtor vizinho do Vallado, cuja família guardava cuidadosamente desde 1888 um lote precioso de Tawny, proveniente de uvas pré-filoxéricas.

São apenas 933 garrafas, em estojo exclusivo

O vinho, colocado inicialmente em três cascos (barricas de madeira usada) de 650 litros, estava reduzido àquela altura a apenas 700 litros, por força da natural evaporação a que foi submetido nestes mais de 100 anos. De qualquer forma, envelheceu gloriosamente durante esse período, nos cascos originais. Ao prová-lo, a equipe de enologia do Vallado viu que estava perfeito para consumo.

O volume encontrado foi suficiente para encher apenas 933 garrafas,  devidamente numeradas, apresentadas em estojo de madeira maciça de nogueira, forrado com uma pelica especial de couro de cabra, e acompanhadas de um exclusivo decanter de cristal da Atlantis.

João Ferreira

Tamanho charme não teria sentido se o vinho não fosse bom. Mas estava esplêndido, dos deuses. De cor acastanhada, brilhante, traz aromas complexos, que lembram frutas secas, como figo, em meio a notas de melaço, tabaco e iodo. Na boca, então, é surpreendente. Doce, mas com boa acidez, é untuoso, sedoso e denso e muito persistente. Não acaba mais. Pena que seja tão raro.

As poucas garrafas disponíveis foram disputadas por restaurantes de primeira linha de todo o mundo. Em São Paulo, o exemplar trazido por João Ferreira foi aberto em almoço no Attimo para pequeno grupo de jornalistas. Mas a importadora P.P.S. informa que é possível fazer encomenda à vinícola. Em Portugal é vendido por 3.450 euros. Aqui custará uma pequena fortuna, claro. Se der certo, valerá cada centavo.



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