A Quinta Vale D. Maria agora é da Aveleda

Esta semana em São Paulo, Cristiano Van Zeller, dono da emblemática Quinta Vale D. Maria, no Douro, nordeste de Portugal, e Martim Guedes, um dos gestores da Aveleda, a gigante dos Vinhos Verdes, confirmaram o que o mercado já sabia: a troca de mãos. A Aveleda comprou integralmente a Quinta Vale D. Maria, que produz tintos de mesa excepcionais e Vinhos do Porto de classe, incorporação formalizada há um mês.

O negócio, cujos valores não foram divulgados, parece ter sido bom para ambas as partes. A Aveleda realiza o antigo sonho de marcar presença na Douro, uma das regiões mais prestigiadas do país. Cristiano, por sua vez, vai manter-se à frente de sua vinícola e terá participação, minoritária, no grupo comprador.

Com produção de 16 milhões de garrafas de vinho e faturamento de 33,2 milhões de euros em 2016, a Aveleda é uma das maiores vinícolas lusas. Já a Quinta Vale D. Maria entrega ao mercado 55 mil garrafas a cada ano e fatura 1,8 milhão de euros.

O grupo majoritário vai manter a identidade das duas companhias, mas pretende unificar algumas operações. Fontes ouvidas por Brasil Vinhos informam que a distribuição dos produtos da Quinta Vale D. Maria em nosso país, hoje feita pela World Wine/La Pastina, deverá passar para a Interfood, que já importa os rótulos Aveleda.

 

Mais de 200 anos

A Quinta Vale D. Maria se localiza no vale do Rio Torto, afluente da margem esquerda do Douro, na zona do Cima Corgo. A propriedade, muito antiga, virada a sul/sudeste, pertence há mais de 200 anos à família de Joana Lemos, mulher de Cristiano Van Zeller.

O casal assumiu o controle da quinta em 1996, que estava arrendada e meio abandonada, e iniciou profundo trabalho de recuperação dos vinhedos e, mais tarde, das construções ali existentes. Compras posteriores ampliaram a área de terras, que atualmente chega a 45 hectares, alguns deles plantados com vinhas velhas, bastante valorizadas.

O primeiro vinho, o tinto Quinta Vale D. Maria, chegou ao mercado em 1997, elaborado por Dirk Niepoort, e logo ganhou fama, comprovando todo o potencial de suas vinhas. Com esse mesmo nome, Cristiano depois passou a oferecer Vinhos do Porto LBV, Vintage e Reserva.

O portfolio da casa apresenta a linha de gama média Rufo, com brancos e tintos. Nos últimos anos, destaque para os tintos top Quinta do Vale D. Maria Vinha da Francisca (nome da filha mais velha e braço direito do pai na vinícola) e Vinha do Rio, que são mesmo espetaculares. Mais recentemente apareceu a série de brancos e tintos 3 Vales.

A adega, pequena, mas dotada de tecnologia moderna, tem 6 cubas de inox e quatro tradicionais lagares de granito – com controle de temperatura e um robô comandado por computador, que faz as vezes da pisa a pé. Sua capacidade é para vinificar até 150 mil litros de vinho por ano.

Nos anos 1990, Cristiano Van Zeller foi administrador da lendária Quinta do Noval, então pertencente à sua família e vendida em 1993 ao conglomerado francês Axa. Atualmente, fora os rótulos Quinta Vale D. Maria, ele detém ainda as marcas CV (Curriculum Vitae) e VZ, que não entraram no negócio com a Aveleda e vão permanecer em seu poder. Como pessoa física, ele também continuará a fazer parte dos celebrados Douro Boys, grupo que ajudou a criar com quatro amigos da nova geração de vinhateiros do Douro, para a promoção conjunta de seus vinhos.

 

Tesouro natural português

A Aveleda pertence à família Guedes desde 1870, quando se dão os primeiros registros de venda de vinho ali engarrafado. As gerações se sucedem, cada uma procurando preservar e expandir o patrimônio da família. Hoje o comando é da 5ª geração, com 14 primos, tendo à frente António e Martim Guedes, ambos na faixa dos 40 anos.

A sede da empresa fica em Penafiel, a 40 km da cidade do Porto, na magnífica propriedade que dá nome ao grupo, a Quinta da Aveleda. Tem área de 150 hectares, dos quais 120 ha. plantados com uvas. A primitiva residência senhorial foi erguida em 1671, como está indicado na porta da Capela, e no século XIX passou por reformas, que a ampliaram.

No interior do terreno se situa o belo Parque da Quinta da Aveleda, uma espécie de bosque/jardim com 15 ha, verdadeiro tesouro natural português, rodeado por um muro de pedra com 3 metros de altura e plantado com árvores de grande porte.

Os vinhos são elaborados na adega grande e moderna. A empresa é responsável por 40% das exportações de Vinho Verde do país. Somente do conhecido Casal Garcia, o Vinho Verde mais vendido no mundo, e no Brasil, são mais de 10 milhões de garrafas por ano.

Além da quinta, o grupo tem outros vinhedos na apelação, somando 300 hectares. Pretende dobrar esta área em breve. Mas busca também atuar em diferentes regiões lusas, tanto que mudou sua razão social para Aveleda Portugal. Produz vinhos no Douro e na Bairrada, onde tem uma propriedade, a Quinta da Aguieira.

 

Força no Douro

Entrar com força no Douro, por seu potencial e prestígio, era projeto antigo da família Guedes. A empresa começou comprando uvas lá para elaborar a linha Charamba e o Casal Garcia Tinto. Em 2015 deu mais um passo, com a aquisição de uma propriedade no Douro Superior, chamada Seis Quintas Martue, na área de Torre de Moncorvo, com 40 hectares e uma adega. Os jornais lusos disseram que o grupo pagou pouco mais de 3,5 milhões aos donos anteriores, três investidores espanhóis.

Agora, a incorporação da Quinta Vale D. Maria deve alavancar de vez a presença da Aveleda na região. As conversas com Cristiano nasceram há alguns anos, lembrando que as famílias Van Zeller e Guedes são ligadas por antigos laços de parentesco.

Martim Guedes ressalta que o grupo tem intenção de, com o tempo, ampliar sua produção de Vinho do Porto. Conta para isso, além das uvas da Quinta Vale D. Maria, com suas vinhas no Douro Superior.

Para a elaboração dispõe da adega de Torre de Moncorvo, com capacidade para vinificar 350 mil litros de vinho por ano, bom reforço para as instalações herdadas de Cristiano Van Zeller. Como se vê, a Aveleda tem tudo para desempenhar um novo e importante papel no Douro e na vinicultura portuguesa.

 

 

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