Vinhos do Uruguai mostram evolução

Vinhos do Uruguai mostram evolução

As vinícolas do Uruguai investem em tecnologias modernas e no melhoramento dos vinhedos, hoje integralmente monitorados por georreferenciamento. Uma nova geração de proprietários e de enólogos, com experiência internacional, adota práticas usadas pelos melhores produtores de outros países, como fazer podas para baixar rendimentos e dar mais equilíbrio às plantas e vinhos.

A soma de todos esses fatores ajuda a explicar a evolução dos tintos e brancos uruguaios nos últimos anos e pôde ser confirmada na semana passada, quando a Wines of Uruguay, entidade que reúne o setor, promoveu em São Paulo mais um Tannat Tasting Tour. O tempo dos Tannat apenas rústicos e rascantes realmente ficou para trás.

Os tintos respondem por 70% da produção nacional e a uva emblemática do país ainda predomina em 49% de sua área plantada. Mas há espaço também para bons vinhos feitos com Tempranillo, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot e Syrah. Entre os brancos, destaque para Sauvignon Blanc e, mais recentemente, para a Alvarinho.

Pequeno, com somente 3,4 milhões de habitantes, o Uruguai resiste entre os vizinhos grandes Argentina e Brasil. Tem 7 mil hectares plantados com uvas. Suas 190 bodegas produzem 66 milhões de litros por ano e boa parte permanece no próprio país – embora em queda, o consumo interno ainda é elevado, chega em média a 22 litros anuais por pessoa.

 

Domar a Tannat

As mudanças começaram nos anos 1970. Com a crise econômica, o mercado se retraiu e os produtores locais sentiram necessidade de se modernizar. A Tannat, variedade originária do Madiran, na França, foi trazida para o Uruguai há 150 anos. Dava tintos com muita cor, adstringentes e muito tânicos – daí o nome da casta.

Xavier Carrau, sócio proprietário da vinícola que leva seu nome de família, em Canelones, lembra que no início dos anos 1991 surgiu um projeto pioneiro para a melhoria da Tannat. “Para isso foram contratados dois enólogos norte-americanos, jovens, mas já com bastante experiência”, conta ele. Eram Brian Loomis e Paul Hobbs, hoje um dos consultores mais festejados do mundo.

Logo depois o Inavi, o Instituto Nacional de Vitivinicultura, patrocinou a reconversão de todos os vinhedos uruguaios e estimulou o surgimento de vinhos com maior nível de qualidade.

Com o tempo, os produtores aprenderam a domar os taninos da Tannat, entre outras coisas, reduzindo os rendimentos por planta, garantindo equilíbrio e concentração. Avaliamos aqui dois tintos provados no Tannat Tasting Tour e que mostram bem a evolução atual dos vinhos uruguaios.

 

Anarkia 2016

Viñedo de los Vientos – Atlántida – Uruguai – Wine.com.br – R$ 75 – Nota 90

Viñedo de los Vientos está em mãos da família de Pablo Fallabrino desde 1947, mas somente em 1995 ele assumiu o controle da propriedade e implantou um projeto pessoal diferenciado, que tem como mote a intervenção mínima na vinha e nos vinhos. O criativo Fallabrino possui hoje 17 hectares de vinhas, situadas em Atlántida, Canelones, a poucos quilômetros do encontro das águas do Rio de la Plata com o Atlântico, área com forte influência das correntes de vento oceânicas. As brisas frias, além de inspirarem o nome da vinícola, favorecem o lento e pleno amadurecimento das uvas. O tinto, um Tannat 100%, segue a filosofia não intervencionista, sem conservantes, nem nada. Vem de uma vinha de meio hectare que fica ao lado da casa da família. Frutado, jovial, é uma carga de frutas vermelhas e azuis maduras, uma espécie de Tannat em pureza. Gordo, com ótima acidez e frescor, mostra vibrantes notas florais, que parecem aquelas sentidas em muitos Vinhos do Porto (14%).

 

Alto de la Ballena Tannat Viognier 2013

Alto de la Ballena – Maldonado – Uruguai – Winebrands – R$ 145 – Nota 91

A vinícola pertence ao simpático casal Paula Pivel e Alvaro Lorenzo, que desde 2000 dedica tempo e cuidados a 8 hectares de vinhedos situados no Departamento de Maldonado, em encostas com muita pedra na Sierra La Ballena, a poucos quilômetros do mar e da bela Punta del Leste. Em seu tinto, de composição inusitada, a Viognier foi fermentada em carvalho e a Tannat, em contato com as peles da uva branca. O objetivo é fazer com que a Viognier, que entra com 10% do corte, potencie os aromas da Tannat. Depois o vinho repousou por nove meses em barricas novas de carvalho americano. O resultado é bom. Ao nariz aparecem notas florais e de especiarias, em base frutada a cereja. Na boca é estruturado, mas consegue oferecer um Tannat macio e elegante.


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