Chegam ao Brasil os vinhos especiais Bemberg, dos donos da gigante argentina Peñaflor
Depois de comprar em 2010 o Grupo Peñaflor, a maior holding da indústria do vinho na Argentina, a família Bemberg começou a produzir em separado uma linha de vinhos premium para seu próprio consumo. Quando foram feitas as primeiras vinificações, na safra de 2013, o grupo decidiu colocá-los no mercado. Foram lançados no ano passado. Os super vinhos da vinícola Bemberg Estate chegam agora ao Brasil, distribuídos pela Decanter, a importadora de Adolar e Edson Hermann.
A proposta da família Bemberg é ambiciosa. Após a seleção das melhores parcelas de seus enormes vinhedos, quer produzir uma coleção de vinhos que exprima o mais fino de cada uma das regiões vinícolas argentinas. O portfólio inclui a linha de varietais La Linterna e o tinto top Bemberg Pionero. Semanas atrás, alguns desses rótulos foram apresentados a jornalistas em São Paulo por Ludmila Halac, responsável pela comercialização dos produtos da bodega.
Para entender melhor o projeto é interessante saber quem é a família Bemberg, dinastia de mega empreendedores e investidores. O pioneiro foi Otto Peter Bemberg, empresário alemão que se mudou para a Argentina em 1852, onde investiu em vários negócios, como a importação de tecidos e a exportação de cereais. Em 1888 criou talvez sua empresa mais conhecida, a Cervejaria Quilmes, que logo se tornou a maior do país, tendo à frente o filho dele, Otto Sebastián Bemberg.
Com patrimônio crescente, mais tarde a família comprou outras cervejarias locais, entrou no setor de insumos, abriu indústrias têxteis e montou bancos. Superou duas crises – a quebra da economia mundial, em 1929, e o confisco de US$ 3 bilhões de seus ativos pelo governo Peron, em 1952, fortuna devolvida pela administração seguinte. Na Argentina há hoje cinco ramos da família Bemberg. Na Europa, os parentes se concentram na Espanha e França.
Com a estratégia de diversificação, a Cervecería Quilmes passou a ser apenas mais um negócio dentro do guarda-chuva do grupo. Por isso, em 2002 a família resolveu aceitar a oferta dos donos brasileiros da então AmBev, que compraram 37,5% das ações da Quilmes. Em 2006, a já renomeada Anheuser-Busch InBev aumentou ainda mais sua participação, absorvendo 91% das ações da cervejaria argentina.
Potencial da Argentina
Cerca de quatro anos após se desfazer da empresa que deu origem à riqueza do clã, a família Bemberg comprou a Peñaflor, maior conjunto de vinícolas da Argentina, em que se destaca a bodega Trapiche. No total, a holding produz 12 milhões de garrafas por ano e possui 3.200 hectares de vinhedos nas regiões de Mendoza e San Juan, centro-norte do país, e Salta e Catamarca, no extremo norte.
Em 2011, os cinco ramos Bemberg na Argentina decidiram criar uma coleção especial de vinhos para expressar a qualidade dos diferentes terroirs do país. Encarregaram do projeto o winemaker chefe do grupo Peñaflor, Daniel Pi, um dos melhores enólogos argentinos em atividade, e Marcelo Belmonte, responsável pela direção dos vinhedos do grupo.
Os dois percorreram todas as vinhas da família, selecionaram as melhores parcelas, viram as castas mais adaptadas em cada uma delas. Daniel fez ensaios e microvinificações até chegar à proposta final, na safra de 2013. Sebastián de Montalembert, um dos herdeiros do grupo Bemberg, explicou à imprensa local os objetivos do programa: “A ideia era transmitir para o mundo o potencial da Argentina como produtora de vinhos de alta gama”.
O império é comandado hoje por representantes da sexta geração de descendentes de Otto Peter Bemberg. Diante dos resultados, eles decidiram comercializar os vinhos e, mais, dar a eles o nome da família. “Para a sexta geração também é uma oportunidade de negócio que mantenha a família unida”, ressaltou na época Sebastián de Montalembert. Consolidou-se assim a Bemberg Estate Wines.
Embora possa utilizar uvas de todos os vinhedos do grupo, Daniel Pi escolheu como centro do projeto uma área de Gualtallary, no vale de Uco, ao sul de Mendoza, onde a clã já possuía uma vinha especial, a Finca El Tomillo, com 92 hectares. Especificamente para o projeto foram separados 27 hectares e, por orientação do enólogo, comprados ali mais 40 hectares. Na mesma propriedade a família investiu 10 milhões de dólares para construir uma adega de última geração, rodeada pelo parreiral.
Os vinhos
Os primeiros vinhos, da colheita de 2013, ficaram mais cinco anos nas caves e chegaram ao mercado no ano passado. Da Finca El Tomillo saem as uvas que entram na composição do tinto top Pionero (78% Malbec, 15% Cabernet Sauvignon e 7% Cabernet Franc). Já os sete varietais La Linterna (seis tintos e um branco, de Chardonnay) são de vinhedo único, representando o que há de melhor em cada região.
É interessante notar que a Malbec é a estrela de quatro tintos da série La Linterna, vindos de quatro locais diferentes, o que permite avaliar como a casta emblemática argentina se comporta em cada um deles. Três saem do vale de Uco, ao sul de Mendoza, de clima mais ameno, sendo um da Finca El Tomillo, localizada nas alturas de Gualtallary (1.210 m), e outro, da Finca El Milagro, zona de La Consulta (1.130 m).
O terceiro se origina de vinhedos do vale de Pedernal, San Juan, distrito de San Carlos, onde se situa a Finca La Yesca (1.400 m). Por fim, há o Malbec da zona quente dos vales Calchaquies, bem ao norte da Argentina, com uvas da Finca Los Chañares.
Os rótulos da Bemberg Estate não são baratos. Além do extremo cuidado com que são elaborados, têm rendimento diminuto. No total, a nova vinícola produz somente 35 mil garrafas por ano. Durante a visita da jovem executiva Ludmila Halac foi possível provar três dos vinhos do catálogo, todos de excelente nível.
La Linterna Malbec Finca El Tomillo Parcela #5 Gualtallary 2013
Bemberg Estate – Mendoza – Argentina – Decanter – R$ 682,20 – Nota 94
Tinto cativante, com grande frescor que, como o rótulo indica, vem dos vinhedos de Gualtallary, no vale de Uco, onde se localiza a Finca El Tomillo, a 1.210 m de altitude. Os solos são arenosos, com presença de rochas sedimentárias fragmentadas e manchas de calcário. Fermentado com leveduras indígenas, amadureceu por 18 meses em barricas novas de carvalho francês. O nariz, agradável, traz notas florais, alcaçuz, grafite, especiarias, em fundo de ameixa. Mostra ainda algo terroso, de eucalipto e ervas. Na boca é seco, estruturado, com taninos maduros e muito boa acidez, daqueles vinhos com mais fineza que potência, persistentes e equilibrados. É a Malbec de clima fresco muito bem trabalhada. Foram entregues ao mercado 8.096 garrafas (14,5%).
La Linterna Malbec Finca Los Chañares Parcela #73 Chañar Punco 2013
Bemberg Estate – Catamarca – Argentina – Decanter – R$ 682,20 – Nota 92
Aqui a Malbec vem de uma zona quente, ensolarada, os vales Calchaquies, no norte da Argentina. Mas a Finca Los Chañares se situa a 1.950 m acima do nível do mar e a altitude favorece este microclima particular, proporcionando uvas sadias e vinhos com frescor. Nos aromas há cereja, framboesa, amora, especiarias, em meio a notas terrosas e de ervas secas. Amplo, estruturado, um tinto potente, concentrado, com taninos maduros, macios e final longo. Jovem ainda, tem vida longa pela frente. Dele foram produzidas 7.402 garrafas (14,5%).
La Linterna Cabernet Sauvignon Finca Las Mercedes Parcela #19 Valle de Cafayate 2013
Bemberg Estate – Cafayate – Argentina – Decanter – R$ 682,20 – Nota 93
Tinto potente, concentrado, boa expressão de fruta, apoiada em sua estrutura tânica. Nasce em Cafayate, nos vales Calchaquies, norte argentino, área de clima seco e muito sol, onde o calor é amenizado pela altitude do vinhedo Las Mercedes, situado a 1.650 m acima do nível do mar. Solos arenosos, com um pouco de limo e argila. Ali a Cabernet Sauvignon foi plantada em 1958, em latada, a partir de seleção massal. O tinto estagiou por 18 meses em foudres e cubas de carvalho francês. Oferece ao nariz toques típicos de pimentão, notas florais e de grafite, em base frutada a amora e ameixa. Tem taninos firmes, maduros, boa acidez e frescor final. Vai melhorar com mais algum tempo de guarda. A produção foi de 6.737 garrafas (14,5%).
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