Os vinhos argentinos dos vinhedos do marechal brasileiro

Os vinhos argentinos dos vinhedos do marechal brasileiro

Erika Goulart

Uma paulistana faz sucesso na vinicultura argentina. Erika Goulart, dona da bodega Goulart, com vinhedos em Mendoza, conquistou admiradores em vários países com seus tintos concentrados e finos produzidos, principalmente, com Cabernet Sauvignon e Malbec, provenientes de vinhas velhas. Os vinhos são bons e têm uma história mais interessante ainda.

Erika é neta do marechal paulista Gastão Goulart. Um dia, ao fazer uma busca em antigos papéis deixados pelo avô, teve uma surpresa. Encontrou documentos referentes a uma propriedade vinícola em Mendoza. Descobriu que o marechal era dono de dois vinhedos plantados em 1915 na sub-região de Lujan de Cuyo. Assim ela se tornou produtora de vinhos. Esta semana Érika apresentou seus tintos e brancos em São Paulo, distribuídos por uma importadora também criada por ela, a World Malbec.

O vinhedo Don Pedro, plantado em 1915

Casada com o argentino José Luis Lugilde, Erika pesquisou e desvendou a incrível saga. O então capitão Goulart foi um dos chefes militares da Revolução Constitucionalista de 1932, a rebelião dos paulistas contra o governo provisório de Getúlio Vargas. Comandava a chamada Legião Negra, formada por negros vindos de todas as regiões do Estado. Quando a revolta foi dominada pelas tropas legalistas, o capitão teve o mesmo destino que outros líderes amotinados, o exílio. Foi morar em Buenos Aires com a esposa e em uma de suas viagens pelo país comprou as terras em Mendoza. Alguns anos depois, reabilitado, voltou ao Brasil, prosseguiu a carreira militar, chegou a marechal e morreu em 1959.

O primeiro trabalho foi recuperar a vinha

A família nunca soube de seu interesse pelas vinhas, até que a neta Erika descobriu em 1998 os velhos documentos do avô. No local indicado ela encontrou os dois vinhedos, completamente abandonados, e a propriedade ocupada por invasores. Resolveu ir à luta. Depois de uma batalha de cinco anos na Justiça argentina recuperou a posse das terras e tomou uma decisão que mudou sua vida. Disse ao marido que passaria a cuidar dos vinhedos.

Erika não entendia nada de vinho. Publicitária de formação, era uma bem sucedida empresária, dona de uma produtora de eventos, feiras e exposições em São Paulo. “Eu ganhava muito dinheiro na época”, conta ela, “mas trabalhava demais e não vivia”.

Ao chegar a Mendoza, deparou-se com um mundo novo: “Antes de mais nada, foi uma mudança de vida. O sucesso como produtora de vinhos foi apenas consequência”. A primeira tarefa árdua foi recuperar as quase centenárias parreiras de Malbec, situadas a 950 metros acima do nível do mar. Tinha dois empregados e um trator. Depois contou com o apoio dos sócios da vinícola Alto Las Hormigas – e um deles, o agrônomo Mauricio Parody, tornou-se sócio da nova empresa.

A empresa tem hoje 55 hectares de vinhedos

No início, Erika vendia suas uvas a terceiros. Em 2002, começou a ensaiar produzir seus próprios vinhos. O primeiro rótulo chegou ao mercado em 2005. Na época, ela tinha a assessoria dos respeitados enólogos Pablo e Hector Durigutti. Hoje a Bodega Goulart, que agora pertence apenas a Erika, possui 55 hectares de vinhedos nas zonas de Lunlunta e Barrancas, área de Luján de Cuyo, plantados especialmente com Malbec e Cabernet Sauvignon. Produz 600 mil garrafas por ano. O enólogo atual é José Hidalgo.

Érika tem dois filhos e mora com o marido em Buenos Aires, onde ele é dono de uma loja de antiguidades, a Vetmas. O vinhos, que mantêm viva a memória do avô marechal, são apresentados em diferentes linhas – parte delas distribuída também pela Wine.com.

A vinícola oferece o espumante Goulart Brut Reserve Pino Noir Brut (R$ 72,40). A série Paris Goulart tem um bom branco de Torrontés (com uvas compradas em Salta, no Norte da Argentina) e vários tintos, na faixa de preços entre R$ 44,40 e R$ 69,50. Em um patamar acima estão os tintos das linhas Winemaker’s Reserve (R$ 76,50) e Grand Reserve (R$ 90,80). Nesta última, destaque para o Cabernet Franc 2013 e o Special Blend 2013. Bom também o Goulart M The Marshall Malbec Altura (R$82,65).

No topo ficam os tintos Gran Vin de Goulart, de produção pequena (cerca de 1.200 garrafas cada um) e bem cuidada, com uvas do vinhedo Don Pedro,  plantadas em 1915. Entre eles despontam o Gran Vin de Goulart Old Vines Malbec 2008 e o Blend Old Vines Malbec 2009, corte de 90% Malbec, 6% Cabernet Sauvignon e 4% Cabernet Franc. Segundo a empresa, estes vinhos especiais não serão vendidos separadamente e sim em kits com 6 garrafas, ao preço de R$ 1.900.

 

Goulart Winemaker’s Reserve Cabernet Sauvignon 2014

Bodega Goulart – Mendoza – World Malbec – R$ 75 – Nota 89

Tinto equilibrado e macio, com passagem de oito meses por carvalho francês. Os aromas lembram cacau, baunilha e ameixa. Tem taninos maduros, nada agressivos. Um vinho gostoso de beber (14,5%).

 

Goulart Winemaker’s Grand Reserve Cabernet Franc 2013

Bodega Goulart – Mendoza – World Malbec – R$ 98 – Nota 90

É sempre interessante provar vinhos de Cabernet Franc, quando bem feitos. É o caso deste, a partir de uvas de Lunlunta, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho. Ameixa, especiarias e tabaco aparecem ao nariz e também algo de ervas. Na boca mostra bom corpo, é intenso, com bom frescor (14,5%).

 

Goulart Winemaker’s Grand Reserve Special Blend 2013

Bodega Goulart – Mendoza – World Malbec – R$ 98 – Nota 91

Corte de 60% Malbec e 40% Cabernet Sauvignon, com 12 meses de barricas francesas, tem aromas limpos, com toques florais, de especiarias e algum herbáceo, em base frutada a amora. É fino, equilibrado e untuoso, daqueles vinhos aveludados, fáceis (14,5%).

 

 

 


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