Vigouroux, o Malbec francês de Cahors

Vigouroux, o Malbec francês de Cahors

Cahors, no sudoeste da França, é das poucas regiões do país que mantém vinhedos de Malbec. Em sua terra de origem, esta uva costuma dar vinhos de cor intensa e alguma rusticidade. Mas nos últimos anos, produtores de visão, como Georges Vigouroux, passaram a adotar manejos cuidadosos nos vinhedos e a investir em tecnologia, conseguindo tintos que se destacam pela tipicidade, fruta e equilíbrio.

O consumidor brasileiro aprendeu a conhecer a Malbec pelos vinhos da Argentina, onde esta uva se desenvolveu muito bem e ocupa hoje grandes áreas. Passou a ser referência mundial para vinhos de qualidade feitos com a casta. Na França, a Malbec ficou relegada a segundo plano. Até o final do século XIX foi cepa importante em Bordeaux, conhecida como Côt, e perdeu força depois da filoxera, a praga que na época destruiu boa parte dos vinhedos europeus. Quando houve a recuperação das vinhas, por meio da enxertia, os produtores optaram por replantar outras variedades, achando que a Malbec tinha a desvantagem de ser sensível a doenças, sem as qualidades, por exemplo, da Merlot. Interessante notar que pouco antes, em 1852, mudas de Malbec tinham sido levadas para Mendoza, na Argentina, onde se adaptaram perfeitamente.

Vigouroux vinhedoA uva sobreviveu basicamente na região de Cahors e em poucas outras. Banhada pelo rio Lot, Cahors apresenta clima mais seco que o de Bordeaux. O índice de chuvas chega em média a 800 mm por ano. Sofre influência do Mediterrâneo, atlântica e um pouco dos Pirineus, a cadeia de montanhas que na região separa França e Espanha. Fica na Gasconha, a terra de D’Artagnan, o célebre personagem de “Os três mosqueteiros”, criado por Alexandre Dumas.

Os primeiros vinhedos foram plantados em Cahors no século I d.C. pelas legiões romanas, quando ocuparam a Gália. Na Idade Média tiveram grande desenvolvimento. Com o casamento de Leonor de Aquitânia em 1152 com Henrique Plantageneta, o futuro rei Henrique II da Inglaterra, seus vinhos alcançaram fama naquele país, disputando espaço com Bordeaux. Os ingleses, grandes consumidores, chamavam os vinhos de bordaleses de claretes, enquanto os de Cahors eram os “vin noir”, referência à cor carregada e à intensidade de sabor. Tudo mudou depois da filoxera. A recuperação das vinhas se deu aos poucos e aconteceu emmaior escala apenas nos anos 1960.Vigouroux uva

Hoje há 22 mil hectares destinados à Apelação Cahors nas duas margens do Lot, espalhados por grandes terraços deixados pelo rio ao longo
do tempo. É uma região de colinas, com diferentes tipos de solo – aluvionais, calcários, pedregosos e presença de ferro vermelho. As terras aluvionais junto ao Lot costumam dar tintos de Malbec mais leves. As vinhas com altitudes que vão de 150 m a 400 m dão origem a tintos estruturados. De estilo diferente dos vinhos argentinos, são poderosos, intensos, austeros, com boa carga de taninos e notas vegetais.

Vigouroux pai e filhoA família Vigouroux é uma das responsáveis pela renovação da imagem de Cahors. Ligada ao vinho há mais de 100 anos, seus vinhedos no Château de Haute-Serre tinham muita fama no passado, mas quase desapareceram com a filoxera. Na década de 1970 a propriedade foi recuperada por Georges Vigouroux, que conseguiu devolver à vinícola o prestígio anterior. Atualmente, seu filho, o enólogo Bertrand-Gabriel, comanda a empresa. Os tintos, brancos e rosés do grupo são distribuídos no Brasil pela importadora Mistral, divididos nas linhas Temps de Vendange IGP Comte Tolosan, Gouleyant e Château de Haute-Serre. A casa produz ainda os rótulos Château de Mercués, comercializados aqui pela Vinci, a outra importadora do empresário Ciro Lilla.

No portfolio, os tintos elaborados com Malbec se destacam. No topo estão o Château de Haute-Serre (85% Malbec e 15% Merlot – US$ 55.90) e especialmente o raro e elegante Château de Haute-Serre Icône Wow (100% Malbec – US$ 299.50). Para os vinhos premium a vinícola conta com a consultoria de Paul Hobbs, o enólogo norte-americano que se notabilizou como especialista em Malbec por seu intenso trabalho na Argentina. Mas por sua qualidade e preço acessível vale conhecer o tinto da linha média Gouleyant (que em francês remete a agradável, fácil).

 

GouVigouroux Gouleyant 4leyant Malbec 2013

Georges Vigouroux – Cahors – França – Mistral – US$ 21.90 – Nota 89

Tinto sem passagem por madeira, produzido com 90% Malbec e 10% Merlot. Nos aromas lembra cereja, jabuticaba, com algo de ervas e chá. Mostra corpo médio, boa fruta, taninos maduros e acidez que faz salivar. Bom para a mesa, acompanha grelhados e carnes vermelhas (12,5%).

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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