Vinhos orgânicos, um dos destaques do evento Casa Aberta La Pastina 2019
A importadora La Pastina, uma das maiores do país, realizou esta semana mais uma edição de seu evento Casa Aberta La Pastina. No espaço do gigantesco centro de distribuição da empresa, situado no bairro do Ipiranga, em São Paulo, a família La Pastina apresentou para clientes, profissionais da área de gastronomia e jornalistas alimentos, delicatessen e vinhos que integram seu catálogo. Vários lançamentos, muita coisa boa. Entre os vinhos, destaque para os tintos e brancos orgânicos e biodinâmicos, área a que a La Pastina tem dedicado especial atenção nos últimos anos.
Fundada pelo saudoso Vicente La Pastina, a importadora atua em nosso mercado desde 1947. Primeiro na zona cerealista do Brás e agora na av. Presidente Wilson, onde a sede e a área de depósitos ocupam 16 mil metros quadrados. Sob o comando do experiente empresário Celso La Pastina, a importadora oferece com exclusividade marcas de alimentos e bebidas mundialmente conhecidas da Itália, Espanha, França, Portugal e de outros países.
Além disso, tem em seu portfólio mais de 100 itens gourmet, apresentados com a marca própria La Pastina. São massas, azeites, condimentos, conservas, vários tipos especiais de arroz, petiscos, doces e biscoitos.
Em relação aos vinhos, a La Pastina distribui rótulos de 42 vinícolas diferentes, de países tradicionais. O grupo administra também a World Wine, criada em 1999 e hoje uma das três maiores importadoras de vinhos premium do Brasil, com cerca de 2 mil rótulos de mais de 150 produtores de 14 países.
Vinhos orgânicos
Entre tantos rótulos e marcas, Celso La Pastina tem mostrado interesse particular na distribuição e divulgação dos vinhos chamados naturais. A propósito, no Casa Aberta desta semana dois workshops foram dedicados ao tema, um trazendo os vinhos orgânicos e biodinâmicos da bodega argentina Chakana e o outro, da chilena Emiliana, a maior vinícola orgânica do mundo.
Os produtos orgânicos e naturais chamam cada vez mais a atenção do consumidor. Na vitivinicultura, o número de adeptos ainda é pequeno – a estimativa é de que apenas 4% dos vinhedos existentes hoje no mundo tenham manejo orgânico. Mas o interesse cresce.
Como traço comum, são vinhateiros que não utilizam produtos químicos sintéticos em suas vinhas ou na adega, com um mínimo ou nenhuma intervenção na elaboração de seus vinhos. Nisso, distinguem-se dos produtores ditos convencionais. Não se trata aqui de dizer que um vinho é melhor que o outro e sim de expressar uma filosofia de trabalho e até mesmo de vida.
O primeiro passo de muitos desses vitivinicultores foi ter consciência da necessidade de proteger o meio ambiente, reduzir o uso de químicos sintéticos na vinha, diminuir a emissão de carbonos. Uma etapa acima é a viticultura orgânica, que no manejo da videira proíbe o uso de produtos industriais, como agrotóxicos, fertilizantes e defensivos químicos.
A agricultura orgânica se baseia no equilíbrio entre os vinhedos e o meio ambiente, de modo a alcançar projetos economicamente sustentáveis. Na cantina busca-se uma intervenção mínima na vinificação, para expressar fielmente o terroir. Para ser considerada orgânica, pelo menos uma das etapas da produção do vinho – no vinhedo ou na vinificação – deve seguir estritamente as práticas estabelecidas pelo movimento.
O conceito de equilíbrio estende-se também ao relacionamento com as pessoas. As empresas consideradas orgânicas buscam melhorar as condições de vida de seus trabalhadores, tratados sempre com igualdade, e com as comunidades em que se localizam.
Já a biodinâmica parte do cultivo orgânico, mas vai ao rigor extremo e se aplica tanto às uvas, quanto à vinificação e ao vinho. Seus princípios foram definidos a partir das propostas feitas em 1924 pelo filósofo austro-húngaro Rudolf Steiner (1861-1925), para quem o campo é um ser vivo que tem um equilíbrio natural e que é preciso manter.
Na biodinâmica são adotadas práticas naturais de conservação de solo; é vedado o uso de fertilizantes ou agrotóxicos químicos sintéticos; a vitalidade do ambiente e das plantas é conseguida com a aplicação de preparados biodinâmicos homeopáticos à base de estrume de animais e ervas. Por isso, há sempre convivência com animais.
A determinação dos momentos mais adequados para os trabalhos agrícolas, como plantio, poda e colheita, é feita pela observação das fases da lua e das estações do ano. Na cantina busca-se uma intervenção mínima na vinificação. Mas não é vetado o uso moderado de sulfitos para proteger o vinho da oxidação.
A adoção de práticas orgânicas ou biodinâmicas pode ser certificada por organismos especializados ou não ocorrer. Há certificações para as práticas agrícolas, para a vinificação, para o relacionamento social, uso de energia e outras. Certificados ou não, o objetivo dos produtores é oferecer vinhos saudáveis, mais benéficos para a saúde humana. Se tiverem qualidade, certamente o ganho é imenso.
Emiliana e Chakana
A viticultura orgânica e biodinâmica se concentra principalmente na Europa. Mas produtores do Novo Mundo estão há bastante tempo nessa estrada. É o caso da vinícola chilena Emiliana e da argentina Chakana. Cada uma delas tem uma bela história para mostrar.
No evento Casa Aberta La Pastina 2019, o enólogo Emílio Contreras contou que a Emiliana foi criada em 1986 pelos irmãos Rafael e José Guilisasti, integrantes da família que ainda hoje é uma das principais acionistas da gigante Concha y Toro. Na época, chamava-se Viñedos Santa Emiliana, tinha 1.400 hectares de terras e produzia vinhos convencionais.
José Guilisasti cuidava pessoalmente do manejo dos vinhedos e não se conformava ao ver que os trabalhadores dos vinhedos precisavam usar máscara para aplicar pesticidas ou outros produtos químicos. Por isso, em 1994 começou a reduzir o uso de agrotóxicos no campo. Dois anos depois, separou algumas parcelas do vinhedo em que não se utilizava nenhum defensivo químico. Não havia ainda o conceito de agricultura orgânica e sim uma preocupação de Guilisasti com a saúde dos trabalhadores.
Ao perceber que era possível produzir uvas sem químicos sintéticos, o empresário começou em 1998 a preparar a empresa para adotar as práticas da agricultura orgânica. Em 2001, já apenas como Emiliana, a vinícola apresentou seu primeiro tinto com certificação orgânica, o Coyam – que na língua dos índios mapuche quer dizer bosque de carvalho, referência ao fato de as uvas virem da Finca Los Robles, no vale de Colchagua. O passo seguinte foi incorporar aos vinhedos a biodinâmica.
A sede da Emiliana fica em Casablanca, mas hoje o grupo possui 922 hectares de vinhas nos principais vales chilenos. Administra ainda 334 hectares pertencentes a agricultores parceiros. No total, 1.256 hectares – a maior superfície de vinhedos orgânicos do planeta. Todos os seus vinhos são orgânicos e se dividem nas linhas Adobe, Novas e Signos de Origen. No topo ficam o Coyam e o ícone Gê. José Guilisati morreu precocemente em 2014. Seu legado ficou.
Já a Chakana está em Mendoza, na Argentina. Foi fundada em 2002 pela família Pelizzatti, descendente de imigrantes italianos. Matteo Acmè, diretor de exportações da empresa, disse que de início a atuação agrícola era convencional e começou a mudar para orgânica e biodinâmica por volta de 2012.
Atualmente, a vinícola possui 150 hectares de vinhedos em cinco propriedades, sendo duas com certificação orgânica e biodinâmica e as outras em processo com o mesmo objetivo. Dois desses vinhedos ficam na zona histórica de Mendoza, em Agrelo e Mayor Drummond, Luján de Cuyo. Os três restantes se situam nas alturas do Vale de Uco, ao sul da província, em Altamira e Gualtallary.
As práticas orgânicas são empregadas também na adega, onde são utilizadas apenas leveduras indígenas e há o mínimo de intervenção possível. Os tintos e brancos são oferecidos nas linhas Chakana Sobrenatural, Chakana Nuna, Chakana Estate Selection. Na gama de cima, o excelente Ayni.
Em todas as atividades, segundo Acmè, busca-se sempre a identificação com a terra em que se localiza. A propósito, Chakana é o nome da cruz quadrada, símbolo do universo para os povos indígenas dos Andes, popularizada pelo Império Inca que se desenvolveu a partir do Peru.
Os vinhos
No evento da La Pastina foi possível provar vinhos das bodegas Emiliana e Chakana e também de outras vinícolas. No caso específico da Chakana, alguns rótulos interessantes mostrados no workshop ainda não estão no catálogo da importadora, mas devem chegar em breve. Vale a pena ficar de olho.
Coyam 2016
Emiliana Organic Vineyards – Vale de Colchagua – Chile – La Pastina – R$ 210 – Nota 92
Quando começou a ser produzido, no início dos anos 2000, o Coyam era um tinto estruturado, bastante extraído, exuberante, como se apreciava na época. Logo fez sucesso. Mas o paladar do consumidor mudou de lá para cá e o vinho acompanhou as tendências. Tornou-se mais amigável, privilegiando o equilíbrio e não a potência. As uvas vêm da Finca Los Robles, onde são plantadas somente variedades tintas, as que mais se adaptam ao clima local. A base continua a mesma, Syrah, Carmenère e Cabernet Sauvignon, com proporções variando de ano para ano. O tempero é dado por pitadas de Garnacha, Mourvèdre, Malbec, Tempranillo ou Petit Verdot. O vinho de 2016 mostra ser da nova geração, equilibrado, harmônico, com muita fruta e frescor. Nos aromas ricos há notas florais, de mentol, anis, especiarias e ameixa preta. Na boca é gordo, amplo, frutado, com taninos firmes e maduros. Pela estrutura e acidez, vai longe (14,5%).
Chakana Sobrenatural Frisante
Chakana – Mendoza – Argentina – La Pastina – Nota 90
Frisantes são os vinhos espumantes que fazem apenas uma fermentação em ambiente fechado, para manter as borbulhas. No caso, isso acontece na garrafa. É um vinho gostoso, produzido com a uva Bonarda, sem adição de sulfitos ou de filtração. Parece um Lambrusco italiano artesanal, um suco de frutas vermelhas, fácil, cremoso, com muito boa acidez e frescor. Simples, vivo, vem da Finca Nuna, de Agrelo, zona histórica de Luján de Cuyo. É seco, algo herbáceo, interessante. Vai bem com frios, sanduíche de mortadela ou como aperitivo. Ainda não está no catálogo da importadora, mas deve chegar em breve (13%).
Chakana Sobrenatural Tannat 2018
Chakana – Mendoza – Argentina – La Pastina – Nota 91
Tinto orgânico e biodinâmico, proveniente da Finca Nuna, de Agrelo, Luján de Cuyo, situada a 960 m de altitude. A Tannat não é muito usual no Chile, mas aqui se deu bem. Repousa por 4 meses em barricas de carvalho francês de segundo uso, apenas para ganhar um toque de madeira. Sem sulfitos ou filtração, mantém as características da uva. Mostra algo vegetal e de chocolate, em meio a fruta madura, que lembra jabuticaba. É jovem, taninoso, ainda pega um pouco na boca, mas deve evoluir bem com o tempo. Ainda não está no catálogo da importadora, mas deve chegar em breve (14,2%).
Ayni Malbec 2017
Chakana – Mendoza – Argentina – La Pastina – Nota 92
Um tinto de nível superior, bem feito, frutado, fresco, elegante, com tudo no lugar. As uvas vêm da Finca Ayni, orgânica, situada em Altamira, no Vale de Uco, a 1.100 m de altitude. Na adega, fermentação espontânea, com leveduras indígenas, sem filtração. Depois, estágio de 18 meses em toneis de carvalho. Traz ao nariz notas florais, balsâmicas, algo de graveto e uma fruta gostosa, muito limpa, como cereja madura. Em corpo médio, tem taninos finos, boa acidez, elegância e frescor final. Um tinto delicioso (13%).
Carlos Serres Rosé 2017
Carlos Serres – Rioja – Espanha – La Pastina – R$ – Nota 89
Um rosé versátil, bom para comida, feito com Tempranillo e um toque de Garnacha. A cor é forte, salmão acobreado. Ao nariz lembra frutas vermelhas, como morango. Destaque para a boca, seco, em que mostra estrutura, em corpo médio e boa acidez. É desses rosés de perfil moderno, fáceis e agradáveis (13,5%).
Morgado de Silgueiros Touriga Nacional 2014
Adega Cooperativa de Silgueiros – Dão – Portugal – La Pastina – Nota 90
O Dão disputa com o Douro ser o berço da Touriga Nacional. Não importa. Quando bem manejada, a casta dá origem a grandes vinhos nas duas regiões. É o caso deste tinto, proveniente de vinhas antigas, com mais de 50 anos, em Silgueiros, concelho de Viseu, no coração do Dão, onde as encostas são voltadas para a Serra da Estrela e para o rio Dão e, os solos, franco-arenosos, bem drenados. Afinado por 10 meses em carvalho francês, traz ao nariz tabaco, especiarias e cassis. Tem bom corpo, estrutura e bastante fruta. Os taninos são firmes e o final, persistente. Algo austero, um tinto que pede comida (13%).
La Pastina – São Paulo/SP – www.lapastina.com.br – Tel.: (11) 3383.9300.
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