Safra 2018 já é considerada a melhor dos últimos anos no Brasil

Safra 2018 já é considerada a melhor dos últimos anos no Brasil

Na Miolo, safra histórica

“A safra 2018 para a Miolo ficará na história”, diz o enólogo Adriano Miolo. “Esta safra está se tornando espetacular, com um potencial de qualidade que pode ser a melhor dos últimos 10 anos”, confirma o agrônomo Edvard Kohn, da Bueno Wines.

A vindima só deve terminar em meados de março no Sul do país, mas o comportamento do clima e a qualidade dos 2/3 de uvas já colhidas entusiasmam os enólogos e deixam a certeza de que 2018 será um ano excepcional. Muitos apostam que a safra atual será até melhor do que 2011 e 2012, até aqui as duas colheitas consideradas especiais nesta década.

De certo, tem-se que é melhor do que 2017. A safra do ano passado foi boa, sem ser excepcional, e recordista em quantidade, com processamento de 753 milhões de quilos de uvas. Isso ajudou a repor as perdas de 2016, ano que teve registro de interferências climáticas desfavoráveis e quebra histórica de 50% em volume. A estimativa é de que a safra de 2018 seja 20% menor do que a do ano passado, entregando às empresas do setor 600 milhões de quilos, mas com uvas de grande qualidade.

Espumantes, brancos e tintos mais leves da safra de 2018 vão ser lançados ainda este ano. Já os vinhos mais estruturados e complexos devem permanecer um tempo nas caves e chegar ao mercado dentro de um ou dois anos, dependendo do estilo desejado pelas vinícolas. Aí sim se poderá ter uma avaliação concreta de todo o potencial da vindima deste ano.

Curiosamente, o verão quente e seco provoca estiagem severa e prejudica as plantações de cereais no Rio Grande do Sul. Mas no caso da viticultura ocorre o oposto. Sem o excesso de chuvas que costuma marcar o período em várias áreas do Estado, esta temporada coroa um ano em que na natureza tudo pareceu dar certo nos vinhedos, convergindo para a produção de uvas com ótimo estado sanitário e maturação plena.

O que se viu até agora confirma a presença do fenômeno La Niña que, ao contrário do El Niño, costuma trazer para a região Sul do país verões menos chuvosos e quentes, e a promessa de safras grandiosas. Em 2017 os produtores também mantinham de início a expectativa de influência do La Niña, o que acabou não acontecendo.

 

A colheita este ano foi antecipada

A natureza ajudou

Desde o começo do verão, no final do ano passado, a natureza tem sido favorável aos viticultores. As condições climáticas até surpreenderam os produtores. As uvas amadureceram mais cedo e por isso a vindima teve que ser antecipada. Em algumas zonas, os primeiros cachos foram colhidos ainda em dezembro, cerca de vinte dias antes do habitual.

Relato da equipe da Miolo permite mostrar o que aconteceu nos últimos meses até chegar à colheita. “O inverno de 2017 foi um dos mais amenos registrados nos últimos anos”, informam os técnicos do grupo, “com baixo acúmulo de horas de frio, ou seja, abaixo de 7,2 °C”. Inicialmente isto causou preocupação na equipe, pois poderia gerar reflexos negativos na quebra da dormência das gemas das videiras, interferindo no volume de produção em 2018.

No entanto, prosseguem os técnicos, o bom estado fitossanitário da copa das videiras no pós-colheita de 2017 compensou a falta de frio e a brotação foi vigorosa e uniforme. O frio menos intenso do inverno e a primavera com temperaturas favoráveis desencadearam o início da brotação, com 15 a 20 dias de antecipação na maior parte das variedades.

Depois, ainda segundo o relato, a primavera transcorreu dentro da normalidade, sem altos e baixos de temperatura, o que acarretou crescimento contínuo da vegetação e floração dentro do esperado. As chuvas da primavera e início do verão também ocorreram dentro da normalidade climatológica e apenas no mês de outubro houve uma semana com chuvas um pouco mais intensas, que não causaram danos nas variedades que ainda estavam em floração.

 

La Niña

Por fim, a equipe da Miolo relata que o verão vem transcorrendo com chuvas bem abaixo da média por influência do fenômeno “La Niña”, com reflexos muito positivos na qualidade e sanidade das uvas. Como se sabe, La Niña é um dos grandes fenômenos climáticos que influenciam o clima em todo o mundo. No caso, é uma espécie de anti-El Niño, cuja presença é sempre associada a chuvas intensas no Sul do Brasil.

Segundo os meteorologistas, o El Niño se caracteriza pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico, na altura do Peru, na época do Natal (por isso o nome, referência ao Menino Jesus), o que muda os padrões de vento no mundo, mexe com o clima global e afeta os regimes de chuva nas regiões tropicais.

Já o La Niña, ao contrário, surge pelo esfriamento anormal nas águas superficiais do Pacífico. Quando ocorre, influencia o clima brasileiro de diferentes maneiras. No Norte e no Nordeste, o La Niña costuma ser acompanhado pelo aumento das chuvas. Na região Sul, traz secas severas – geralmente prejudiciais para a maioria das variedades cultivadas como alimento, mas bastante adequada para os vinhedos.

Além dos dias quentes, o pessoal da Miolo ressalta ainda que na vindima atual as temperaturas amenas noturnas foram uma constante no período de maturação das uvas. A amplitude térmica média foi de 16 °C, chegando em alguns casos a ultrapassar 20 °C, favorecendo o acúmulo de matéria corante nas variedades tintas.

 

O enólogo Adriano Miolo

Em 2018, todos os top

A Miolo comemora a excelente qualidade das uvas em todas as regiões do Rio Grande do Sul em que possui vinhedos próprios. O grupo cultiva 750 hectares em três projetos no Estado – Vinícola Miolo, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (100 ha); Vinícola Seival, em Candiota, na Campanha (200 hectares); e a Vinícola Almadén, em Santana do Livramento, também na Campanha (450 hectares). Comanda ainda a Vinícola Terranova, em Casa Nova (BA), Vale do São Francisco (200 hectares).

No RS, a empresa já colheu 2/3 do total previsto para esta safra, que é de 6,2 milhões de quilos de uvas. “A safra 2018 para a Miolo ficará na história, pois produziremos todos os nossos grandes vinhos que são elaborados exclusivamente em safras excepcionais”, destaca o enólogo Adriano Miolo, superintendente da empresa.

No Vale dos Vinhedos, onde começou a vindima em 3 de janeiro, a Miolo conseguiu uvas que vão manter o nível de toda sua linha. Adriano destaca que Pinot Noir e Chardonnay, utilizadas como base para seus espumantes, deram tão bem que permitirão elaborar as versões Miolo Cuvée Tradition e Miolo Millésime, produzidas apenas nas grandes safras.

Foi assim igualmente com a Merlot da Serra Gaúcha, ponto de partida do top Miolo Merlot Terroir. Adriano prevê que a Cabernet Sauvignon, a última a ser colhida, até meados de março, seguirá o mesmo padrão – oferecendo condições para vinificar o ícone Miolo Lote 43, elaborado somente nas safras excepcionais.

No Seival, na Campanha, da mesma forma, a empresa colheu ótimas uvas para os brancos e tintos das linhas Miolo Seleção, Miolo Reserva e Quinta do Seival. E vai produzir, depois de sete anos, nova edição de seu tinto top Sesmarias. Já na Almadén, comprada pelo grupo em 2009, também será elaborado o Vinhas Velhas Tannat, o que acontece somente nas melhores safras.

A generosidade da natureza se junta aos investimentos feitos pelo grupo Miolo nos últimos anos, na adega e nos vinhedos, para elevar a qualidade de seus produtos. “Agora, vamos ficar na expectativa de que o mercado reconheça isso e, desta forma, melhore a imagem e participação dos vinhos brasileiros na mesa dos brasileiros”, destaca Adriano Miolo.

 

Na Bellavista Estate, entusiasmo (Foto: Pablo Meira Costa)

Bueno Wines

Na Bellavista Estate, que pertence ao narrador global Galvão Bueno e se localiza na Campanha Gaúcha, a colheita da safra 2018 está praticamente terminada e desperta igual entusiasmo. Segundo o renomado winemaker italiano Roberto Cipresso, diretor técnico da Bueno Wines, os eventos climáticos forçaram as videiras a acelerar, desenvolvendo uma uva de alta qualidade. O agrônomo Edvard Khon, responsável pelos trabalhos de campo, vai além e observa que esta colheita pode ser a melhor da década até agora.

Os espumantes da casa estarão no mercado daqui a seis ou oito meses; já os vinhos tranquilos, em até 20 meses após a colheita. Cipresso acredita que toda a linha será beneficiada, incluindo o tinto top Paralelo 31.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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